Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação
Dados de Teste: Revistas Quatro Rodas e Carro

Soul e Cerato são dois exemplos de que a Kia mudou radicalmente a imagem de carros rústicos, mal-acabados e de manutenção difícil que tinha no mercado brasileiro nos anos 1990. Tirando a Besta, da qual todo mundo guarda recordações, quem se lembra dos sedãs Sephia e Clarus?

O Soul é uma estranha novidade e o Cerato é a nova geração de um sedã médio que tinha participação muito discreta. Ambos chegaram badalados pelo eficiente marketing e dispostos a enfrentar em igualdade os japoneses da Honda.

Por isso eu decidi fazer um desafio dessas duas novidades da Kia contra os seus respectivos concorrentes fabricados no Brasil pela Honda: o monovolume Fit e o sedã City, ambos com motor 1.5 no acabamento EXL .

HONDA FIT EXL 1.5 16v x KIA SOUL 1.6 16v


A Kia lançou no último Salão de Frankfurt, na Alemanha, o monovolume Venga, com a missão de enfrentar o Jazz (como o Fit é conhecido na Europa). Aqui no Brasil a função de concorrer com o Honda, por enquanto, ainda cabe ao Soul, importado (mas que pode ser fabricado no país) que tem um design muito estranho para os padrões brasileiros e até mesmo para os europeus. Por isso, perde para o Fit no quesito design.

Seu perfil nitidamente 'caixote', na verdade, o coloca em um outro segmento que faz muito sucesso nos Estados Unidos e no Japão: o dos carros-cubo: aqueles visivelmente quadradões que são ao mesmo tempo um hatch, uma perua, uma minivan e um crossover. Seus verdadeiros concorrentes são o Honda Element, o Nissan Cube e o Scion xB ou Toyota bB.


Entrando no Soul você esquece do seu desenho estranho e passa a se sentir em um carro normal. O acabamento evoluiu bem, comparado aos antigos carros da Kia. Os plásticos têm boa aparência, mas o fabricante pecou por não fazer nenhum revestimento de tecido nas portas. O que estraga também são os porta-objetos pintados internamente de vermelho. Muito chamativos como a carroceria. Mas vejamos pelo lado prático: têm tampas para esconder o mico e ajudam na localização dos objetos em lugares com pouca luz. Assim, o Fit venceu a primeira.

O Soul começa a reagir e é mais silencioso e espaçoso do que o Fit. No interior o "carro-design" da Kia só perdeu no porta-malas de 340 litros. O Fit tem 384, ainda assim pequeno para a proposta que tem.

O motor 1.6 16v do Soul tem 124 cavalos de potência. Superior a do Honda, que tem 115 cv com gasolina e 116 com álcool. Pena que o coreano só é movido a gasolina. O bicombustível só chega no final do ano que vem. Como o critério é a potência, o Soul leva. Leva também a vitória no consumo. Média de cerca de 12 km/litro, segundo a revista Quatro Rodas. No desempenho houve o primeiro empate do comparativo. Como só obtive números de câmbios diferentes, o Kia manual foi melhor na aceleração e o Honda automático na retomada.

A quarta das seis vitórias do Fit ocorreu na frenagem, que define o quesito da segurança. Pisando no freio a 80 km/h o monovolume da Honda parou em 26,1 metros, segundo a Revista Carro. contra 27,2 do Soul na mesma velocidade, mas pela Quatro Rodas.



Entrando na reta final do comparativo, vamos para o pós-venda. A Kia oferece mais garantia: cinco anos ou 100.000 km contra três anos ilimitados do Honda, que vence na assistência por ter uma rede de concessionárias maior, sendo 142 contra 104 da marca sul-coreana. Não considero a garantia por causa da estratégia de marketing.

O Fit confirma a vitória no comparativo por ter mais equipamentos de série exclusivos e interessantes do que o Soul. Ambos têm ar condicionado, direção elétrica progressiva, trio elétrico, volante com regulagem de altura, banco do motorista com regulagem de altura, rádio com CD Player, mp3, entrada para USB e iPod e comandos no volante, faróis de neblina, apoio de cabeça para todos os ocupantes, airbag duplo e freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem. Entretanto, o Honda se destaca por ter ar condicionado digital, regulagem de profundidade do volante, computador de bordo, piloto automático e cintos de segurança para todos os ocupantes. O Kia Soul só se destaca pela interessante câmera no para-choque traseiro com projeção no retrovisor interno quando acionada a marcha-a-ré.

Para quem está satisfeito com os equipamentos do Kia Soul ele é mais barato do que o Honda Fit, mesmo na versão mais completa: R$ 60.900 com câmbio manual e R$ 66.900 com transmissão automática contra R$ 62.670 e 68.455, já com o IPI aumentado.

Separando o preço dos equipamentos na contagem geral o Soul não resistiu ao Fit e perdeu por 6 a 5.

PREÇO - Soul / MOTOR - Soul / DESEMPENHO - EMPATE / CONSUMO - Soul / SEGURANÇA - Fit / CONFORTO - Soul / PORTA-MALAS - Fit / ESTILO - Fit / ACABAMENTO - Fit / ASSISTÊNCIA - Fit / ESPAÇO INTERNO - Soul / EQUIPAMENTOS - Fit


HONDA CITY EXL x KIA CERATO 1.6 16v

A primeira geração do sedã Kia Cerato, lançada em 2006, queria concorrer com os recém-lançados Renault Mégane e Honda Civic, mas não tinha qualidade a altura dos rivais. Acabou com uma participação discreta no mercado brasileiro. A versão reestilizada chegou este ano totalmente diferente na carroceria de 4,53m de comprimento e 2,65m de entre-eixos, e também no interior, mas com o mesmo objetivo: enfrentar novamente o Civic, o Mégane e também, desta vez, o renovado Toyota Corolla e o estreante Fiat Linea.

Acontece que a Honda lançou um novo sedã para disputar o segmento dos compactos, mas saiu tão caro que se tornou um concorrente inesperado para o Cerato: o City, de 4,40m de comprimento e 2,55m de entre-eixos. Lançado em agosto, seria fabricado na Argentina mas acabou virando nacional de Sumaré (SP). Poderia ser chamado de Civic Júnior.

Os dois carros são modernos e bonitos mas não têm desenho muito original. Criado por um ex-designer da Audi, o estilo do Cerato tem faróis que lembram o Civic japonês (cujo quais são mais recortados), perfil do antigo Citroën Xsara e lanternas traseiras lembrando a antiga patroa de Peter Schreyer. Construído sobre o chassi do monovolume Fit, o City ganhou faróis do irmão maior Civic, grade do híbrido estrangeiro Insight e perfil e traseira do BMW Série 3.

Ao compará-lo a um modelo que saiu de linha há mais de cinco anos não quis dizer que o Cerato é antiquado, mas tende a se desatualizar mais rápido que o rival, que empolga mais quando é visto, principalmente ao vivo.

O City venceu de novo no acabamento, pois tem mais revestimento nas portas. O Cerato, infelizmente, não repetiu a boa qualidade do Soul, mas também não é rústico como os modelos da Kia nos anos 90. O console central e outros detalhes têm cobertura em aço escovado, o display vertical dos comandos do rádio e climatização é inspirado nos carros da Volvo e o braço central do volante é vazado como virou moda.


A Honda corrigiu o deslize do porta-malas de hatch compacto do Civic e caprichou na capacidade de bagageiro do City, disponibilizando 504 litros, bem mais que os 415 litros do Cerato que compensa no espaço para os passageiros de trás, embora esta vitória tenha vindo na altura e na largura.

O Cerato dominou os itens de mecânica e comportamento. Como o Soul, ele também ainda não tem um motor flex, o que o prejudica no mercado, mas seu motor a gasolina 1.6 16v, o mesmo do utilitário, tem 126 cavalos, onze a mais que os 115cv do City com gasolina. Com álcool a potência é de 116cv. Testados pela revista Quatro Rodas com câmbio automático (de quatro marchas no Kia e de cinco com controle borboleta no volante no Honda), a vantagem do Cerato foi tão mínima que eu declarei empate. A maior diferença foi na aceleração de 0 a 100 km/h: 12,4 contra 12,9 seg. Na arrancada até 1 km a vitória de 33,9 a 34 seg. e na retomada de 80 a 120 kmh, 9,5 contra 9,7 seg. Outras duas vitórias do Cerato foram no consumo e na frenagem. Na cidade, ele andou 10,5 quilômetros com um litro de gasolina contra 8 km/l de álcool do Honda, testado apenas com este combustível. Na estrada, a média foi de 13,9 km/l contra 10,4 km/l. A 120 km/h ele para totalmente em 57,1 metros contra 58 do City, segundo a Quatro Rodas.

A Kia também oferece cinco anos ou 100 mil km de garantia para o seu sedã médio, contra três anos ilimitados da Honda, mas a marca japonesa tem mais revendas do que a sul-coreana: 156 contra 104.

Com o fim do desconto do IPI, os preços dos carros subiram. Completo, o Cerato agora custa R$ 58,8 mil, muito mais barato que os R$ 71.860 pedidos pelo City. Ambos trazem de série ar-condicionado digital, direção assistida, vidros, travas e retrovisores elétricos, airbag duplo, CD player compatível com MP3 dotado de entradas auxiliar e USB, comandos do som no volante, banco do motorista com regulagem de altura, computador de bordo e alarme na chave, repetidores de seta nos retrovisores, freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuição da força de frenagem), faróis de neblina e rodas de liga leve de 16”.

O City tem a mais assistência elétrica de direção (que é mais confortável em manobras), ajuste da profundidade da coluna de direção e revestimento dos bancos em couro, mas ainda assim a diferença de preço é muito grande.

Na segunda parte do desafio comparativo entre Honda e Kia houve um empate em 5 a 5 nos quesitos. Só que entre os sedãs o melhor custo-benefício foi do sul-coreano Cerato, que mesmo se tivesse os itens que o City tem a mais não custaria tão caro assim.


PREÇO - Cerato / MOTOR - Cerato / DESEMPENHO - EMPATE / CONSUMO - Cerato / SEGURANÇA - Cerato / CONFORTO - EMPATE / PORTA-MALAS - City / ESTILO - City / ACABAMENTO - City / ASSISTÊNCIA - City / ESPAÇO INTERNO - Cerato / EQUIPAMENTOS - City