A Fiat lançou o seu novo hatch, o Argo, para substituir, de uma só vez, o Bravo, o Punto e o Palio com motores 1.4 e 1.6. Claro que prevalece o porte de um compacto e o preço de um médio. Com motor 1.8, o novo modelo vai concorrer com o Hyundai HB20, o Ford Fiesta, Peugeot 208 e o futuro Volkswagen Polo. Já os Argo 1.0 e 1.3 vão disputar mercado com o Chevrolet Onix, Ford Ka e Volkswagen Gol, além do HB20.

Argo Precision

O Argo é mais reto, principalmente na frente, com os seus faróis pontudos que vão da grade até a lateral, quase no para-lama, como no subcompacto Mobi. Por dentro da teia, uma moldura que lembra a grade do antigo Palio. A segunda entrada de ar, no para-choque, também tem forma de colmeia. Achei essa grade principal de construção barata. Poderia ter ganho umas escamas mais trabalhadas, com detalhes cromados, como no Tipo europeu, que inspirou a frente do Argo.

Argo HGT
A lateral é discreta, com poucos vincos e uma ligeira elevação na base das janelas. A traseira é ainda mais comportada, com lanternas de prolongamento horizontal levemente rebaixado e refletores em falso LED em forma de bumerangue. No centro, o logo arredondado em prata e vermelho texturizado deu lugar simplesmente à inscrição FIAT, como tem acontecido no Mobi e na picape Toro (suas últimas duas novidades). Em resumo, a Fiat trocou o estilo arredondado e diferenciado do Palio por um padronizado com os seus concorrentes.


Argo Drive 1.0

Além disso, a plataforma é antiga. Vem da Palio Weekend, que depois foi usada com alguns ajustes na Strada, na minivan Idea, no Punto e até no Linea. Apesar de já ter mais de vinte anos (a origem mesmo está no Palio hatch), oferece bom espaço interno com a distância entre-eixos de 2,52m. O Argo tem 4 metros de comprimento por 1,72m de largura. A altura é de 1,50m.



O interior ousou mais, mas não foi original. O Argo apela para as triplas saídas centrais de ar com a parte central de cor diferenciada. Acima, está destacada a tela de 7 polegadas do sistema multimídia. O visual lembra, ao mesmo tempo, os Mercedes Classe C e os recentes modelos da Hyundai na Europa, como o novo i30 e Kona. Os difusores de ar das extremidades são retangulares e voltados para motorista e carona. Na parte inferior estão as teclas funcionais (que abaixam quando apertadas, em vez de se retraírem) e os comandos do ar condicionado manual ou digital, dependendo da versão. O quadro de instrumentos tem velocímetro e conta-giros analógicos, mas a tela do computador de bordo tem a função de velocímetro digital. Nas versões mais caras é de 7 polegadas e nas simples, 3,5".



O acabamento é inteiramente em plástico duro, com textura diferenciada na parte superior do painel e das portas, onde também há um revestimento em tecido (só nas portas da frente) ou couro, dependendo da versão. A maçaneta interna também é em plástico preto e não cromada ou prateada, como em alguns concorrentes. O espaço interno para as pernas é bom e não há saídas de ar condicionado para os passageiros de trás. O volume de 300 litros do porta-malas é igual ao do HB20 e do Peugeot 208, mas é menor que os 320 litros do Renault Sandero.



Os motores 1.0 e 1.3 do Argo são os mesmos da família Fire Fly usados no Uno. O 1.0 tem três cilindros e rende 70 cv com gasolina e 77 cv com álcool. O 1.3 é de quatro cilindros com 101 e 109 cv, respectivamente. O outro motor é o E.TorQ 1.8 16v de 135 e 139 cv, o mesmo usado no Jeep Renegade, inclusive com as melhorias na potência, que deu o sobrenome EVO na Fiat.



O câmbio manual é sempre de cinco marchas, uma falta de inovação, pois o do HB20 tem seis na versão 1.6. Para o motor 1.3 a transmissão é automatizada, também de cinco velocidades, que trocou de nome de Dualogic para GSR e só tem botões no console, ao estilo Ferrari. As versões com motor 1.8 utilizam o automático convencional de seis marchas, com alavanca no console. 



O Argo já está sendo vendido desde junho nas versões Drive 1.3, Precision 1.8 e a esportiva HGT 1.8. A Drive 1.0, que só chegou às concessionárias agora em julho, custa R$ 46.800 e traz de série ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, banco traseiro rebatível, chave canivete com telecomando para aberturas das portas, vidros e porta-malas, apoios de cabeça e cintos de três pontos para todos os ocupantes, direção elétrica progressiva, desembaçado do vidro traseiro, Isofix, iluminação do porta-malas, limpador do vidro traseiro, predisposição para rádio (2 alto-falantes dianteiros, 2 alto-falantes traseiros e 2 tweeters e antena), sistema Start/Stop, travas elétricas, vidros dianteiros elétricos, volante com regulagem de altura e computador de bordo.

O kit Multimedia é um dos pacotes de opcionais. Custa R$ 1.990 e inclui central multimídia com tela de 7” touchscreen, comandos de voz Buetooth, áudio streaming, AUX/USB/MP3/AM/FM, volante multifuncional com comandos de áudio e fone e segunda entrada USB. O Convenience custa R$ 1.200 e tem retrovisores externos elétricos com luzes indicadores de direção integrada e função Tilt Down, vidros elétricos traseiros com one touch e antiesmagamento. Com câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro com visualizador gráfico, o Parking tem o mesmo preço. Por R$ 1.300, o Rádio Connect tem rádio com AUX/USB/MP3/AM/FM, áudio streaming, viva-voz Bluetoth e comandos do rádio e telefone no volante.


A Drive 1.3 manual sai por R$ 53.900, tem os mesmos itens do motor 1.0 e adiciona segunda porta USB para passageiros, central multimídia Uconnet de 7″ touchscreen com Android Auto e Apple Car Play, Bluetooth, entrada USB e sistema de reconhecimento de voz, sistema de monitoramento de pressão dos pneus e volante com comandos de rádio e telefone. Os opcionais são o pacote Convenience e o Stile, por R$ 1.900 que inclui faróis de neblina, rodas de liga leve de 15” e pneus 185/60.




A Drive 1.3 GSR custa R$ 58.900 e, além do câmbio automatizado, acrescenta iluminador de ambiente externo, apoio de braço para motorista, controles de tração (TC) e de estabilidade (ESC), Hill Holder, piloto automático, retrovisores externos elétricos com função Tilt Dow e setas integradas e vidros elétricos traseiros. Os opcionais são os kits Stile e Parking, que custa R$ 1.200. 



A Precision é a primeira com motor 1.8. Com câmbio manual custa R$ 61.800 e incorpora os itens da anterior e mais alarme antifurto, banco traseiro bi-partido 60/40, Led Design, rodas de liga leve 15″ com pneus 185/60 e volante com regulagem de altura e profundidade. Com o câmbio automático de seis marchas o preço sobe para R$ 67.800 e só incorpora, além da transmissão AT6 as aletas de mudanças no volante e o revestimento em couro no mesmo.  

O kit Stile da Precision muda ao trocar os faróis de neblina pelos bancos em couro sintético e as rodas de liga-leve de 15 polegadas e pneus 185/60 pelos de aro 16" e pneus 195/55. O preço também sobe e vai até R$ 2.200. O kit Parking (câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro) é o mesmo, inclusive o preço. 

Nesta versão surge o kit Tech, composto de entrada e partida sem chave (keyless n'go), retrovisores externos com rebatimento elétrico e luz de conforto, ar-condicionado digital e quadro de instrumentos 7″ em TFT. Custa R$ 3.500. E também tem os airbags laterais, por R$ 2.500. Mas não há airbags de cortina. Estes opcionais também valem para o Argo Precision com câmbio manual.



O HGT, que resgata o nome da versão de acabamento esportivo do antigo Brava, é considerado o top da linha Argo, mas tem as duas opções de transmissão e muitos opcionais. O manual custa R$ 64.600 e o AT6, R$ 70.600. 

De série, adiciona o quadro de instrumentos de 7 polegadas, o volante revestido em couro e as rodas de 16 polegadas sob pneus 195/55. O automático adiciona apoio de braço dianteiro, piloto automático e as aletas no volante. 

Como opcionais, são oferecidos os kits Tech (agora desfalcado da tela de TFT nos instrumentos, mas pelo menos barateado para R$ 2.800), Stile (que troca as rodas de 16 pelas de 17 polegadas com pneus 205/50 e sobe para R$ 2.500), Parking e os airbags laterais para ambas as versões. 



Houve uma edição limitada a 1.000 unidades do HGT chamada Opening Edition, personalizada pela Mopar. Vinha com um conjunto de acessórios, montados no Custom Shop da fábrica de Betim. Disponível apenas na cor azul Portofino, ele vem com teto e retrovisores externos pintados de preto, e com um elegante aerofólio na tampa traseira, também na cor preta. Entre os acessórios Mopar, destaque para rodas de alumínio escurecidas (aro 16), protetor de soleira das portas, tapetes de borracha e carpete, kit de alto-falantes de alta performance com 60 W e o badge “Mopar” nas colunas traseiras. Além disso, o Opening Edition Mopar veio com a conveniência do Mopar Vehicle Protection (MVP), com as três primeiras revisões inclusas.


Em termos de custo-benefício, comparado aos concorrentes e dependendo da versão, o Argo consegue ser mais barato que o Volkswagen Gol, o Peugeot 208 e o Ford Fiesta completos. A versão Drive 1.3 GSR é a de melhor custo-benefício, já as versões com motor 1.8 são as relativamente mais caras. Veja o quadro comparativo abaixo:

Argo Drive 1.0 - R$ 46.800 (básico) - R$ 51.190 (completo)
  • Chevrolet Onix LT 1.0 - R$ 46.150 - R$ 47.950
  • Ford Ka 1.0 - R$ 44.290 (SE básico) - R$ 51.090 (SEL)
  • Hyundai HB20 1.0 - R$ 42.500 (Comfort) - R$ 48.530 (Comfort Plus)
  • Volkswagen Gol 1.0 - R$ 41.690 (Trendline básico) - R$ 53.119 (Comfortline completo)

Argo Drive 1.3 manual - R$ 53.900 - R$ 58.200
  • Chevrolet Onix 1.4 - R$ 51.050 (LT básico) - R$ 56.650 (LTZ básico)
  • Ford Ka 1.5 - R$ 48.590 (SE) - R$ 55.390 (SEL)
  • Hyundai HB20 1.0 Turbo - R$ 49.830 (Comfort Plus básico) - R$ 52.530 (CP com multimedia)
  • Peugeot 208 1.2 manual - R$ 52.290 (Active) - R$ 59.090 (Allure)
  • Volkswagen Gol 1.6 - R$ 47.161 (Trendline básico com ar condicionado) - R$ 62.633 (Highline completo)


Argo Drive 1.3 GSR - R$ 58.900 - R$ 62.000
  • Chevrolet Onix 1.4 automático - R$ 56.190 (LT básico) - R$ 61.950 (LTZ completo)
  • Ford Fiesta 1.6 - R$ 53.660 (SE) - R$ 65.490 (Titanium)
  • Hyundai HB20 1.6 - R$ 52.380 (Comfort Plus)
  • Peugeot 208 Allure 1.6 Automático - R$ 64.690
  • Volkswagen Gol 1.6 iMotion - R$ 53.029 (Comfortline básico) - R$ 66.033 (Highline completo)

Argo Precision 1.8 manual - R$ 61.800 - R$ 71.200
  • Ford Fiesta 1.6 - R$ 53.660 (SE) - R$ 65.490 (Titanium)
  • Hyundai HB20 1.6 - R$ 52.380 (Comfort Plus)


Argo Precision 1.8 automático - R$ 67.800 - R$ 77.200
  • Ford Fiesta 1.6 automático - R$ 63.190 (SEL) - R$ 73.090 (Titanium Plus)
  • Ford Fiesta 1.0 Ecoboost - R$ 66.090 (SEL) - R$ 73.990 (Titanium Plus)
  • Hyundai HB20 1.6 automático - R$ 56.880 (Comfort Plus) - R$ 67.720 (Premium)
  • Peugeot 208  Griffe 1.6 16v - R$ 69.190
  • Volkswagen Gol 1.6 iMotion - R$ 53.029 (Comfortline básico) - R$ 66.033 (Highline completo)


Argo HGT 1.8 - R$ 64.600 (manual básico) - R$ 79.600 (automático completo)
  • Chevrolet Onix Activ 1.4 - R$ 59.950 - R$ 65.250
  • Ford Fiesta 1.6 automático - R$ 63.190 (SEL) - R$ 73.090 (Titanium Plus)
  • Hyundai HB20X 1.6 - R$ 59.645 (Style) - R$ 70.735 (Premium)
  • Peugeot 208 Sport 1.6 automático - R$ 64.190


O motor FireFly 1.0 (70/77 cv) do Argo é o que tem a menor potência no segmento. O FireFly 1.3 (101/109 cv) é bom. Rende mais que o 1.0 Turbo do HB20 (98/105 cv), do 1.2 Pure Tech do Peugeot 208 (84/90 cv), do 1.4 do Onix (98/106 cv) e do 1.6 do Gol (101/104 cv), mas fica atrás do 1.5 do Ford Ka (110/115 cv) e do 1.6 do HB20 (122/128 cv). Apesar de mais velho, o E-TorQ  EVO 1.8 16v (135/139 cv) é mais potente que os concorrentes Peugeot 208 (115/122 cv) e Ford Fiesta, ambos 1.6 16v (125/128 cv). E também o 1.0 Ecoboost de 125 cv do Fiesta. Mas come poeira quando colocado ao lado dos 166/173 cv 1.6 THP do 208 GT.


Argo Drive 1.3

Ainda não tive acesso a testes do Drive 1.0. Assim, fico impedido de fazer uma avaliação dinâmica sobre ele. Então analiso apenas o 1.3 manual, testado pela revista Quatro Rodas, que tem boas aceleração (12,4 segundos de 0 a 100 km/h) e frenagem (27,6 metros a 80 km/h). O consumo é ótimo (14.6 km/litro na cidade e 16,8 km/l na estrada). Já o ruído de 63,4 decibéis a 80 km/h é razoável. A retomada, porém, é um pouco lenta (21 segundos entre 80 e 120 km/h). 


Argo HGT

O HGT 1.8, testado pela Carro, obteve um bom desempenho (aceleração em 9,9 segundos e retomada em 10,6 segundos), ótimos ruído (61,2 decibéis) e frenagem (25.4 metros), mas a idade do motor E.Flex pesou no consumo de 7,4 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada.


Argo HGT

Com o Argo, a Fiat não está renovando a sua linha no Brasil. Renovação é quando todos os modelos da sua linha são totalmente reestilizados os substituídos por outros mais modernos.

O que a marca italiana está fazendo é uma racionalização. Um corte de custos. Parou de importar modelos como o 500 e o Freemont, não atualizou a minivan Idea e muito menos lançou o 500x ou o 500L no seu lugar. Suas mais recentes e maiores novidades antes do Argo foram o face-lift e os motores FireFly do Uno, o subcompacto Mobi e a picape médio-grande Toro. Ainda serão lançados o Argo sedã (fabricado na Argentina, com chegada prevista para o final do ano) e uma picape que vai substituir a Strada. E só. A vinda do Tipo é uma incógnita. 




No primeiro mês de mercado, o Argo ainda não decolou. Vendeu apenas 1.431 unidades em junho, dez vezes menos que o Onix e o HB20. 

A culpa não chega a ser do nome estranho, que vem do barco que transportava semideuses da mitologia grega, como Hércules, Orfeu e Heitor, rumo à Cólquida para conquistar o Velocino de Ouro. 

Recai mais sobre o erro estratégico de lançar um carro premium com motor 1.0, que mesmo assim demorou para chegar às concessionárias. A Fiat ainda tem o Mobi, o Uno e o Palio com motores mil e claro que o consumidor vai optar pelos mais baratos. 

Com o motor 1.0 ele pode até melhorar nas vendas, mas dificilmente será capaz de ultrapassar o hatch da Chevrolet custando tão caro.  




TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
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