Lançado em agosto, o Volkswagen Nivus introduziu o estilo SUV-Cupê no segmento compacto. Para este comparativo do Guscar escolhi dois concorrentes com estilo que se aproxima do modelo novato, fabricado em São Bernardo do Campo.

Só que, enquanto um está chegando, seus dois rivais escolhidos, o Citroën C4 Cactus e o Honda HR-V (todos com câmbio automático como o próprio Nivus) já estão praticamente desatualizados e, por isso, se despedindo dos comparativos deste blog. 

Fabricado em Porto Real, aqui no estado do Rio, o modelo da marca francesa deve ser substituído por um modelo projetado especialmente para o mercado brasileiro em 2023. Ou seja, de construção mais pobre. Na Europa, por ora, o seu sucessor é o novo C4, agora, ironicamente, com a mesma filosofia estética do Nivus. Mas é esperada uma nova geração do Cactus por lá. Já o japonês fabricado em Sumaré, SP, ganhará nova geração no ano que vem, que deve chegar aqui só em 2022. 

Comparado na versão top Highline, o Nivus, por sua vez, vive os seus primeiros meses de mercado. Até outubro foram emplacadas 9.000 unidades, com 3.124 unidades em outubro. Por enquanto, ele ainda aparece no 23o lugar geral do ranking de vendas, mas a tendência é de subida, apesar de ter vendido menos em relação a setembro. 

Embora o Nivus seja, assumidamente, o primeiro SUV compacto com estilo cupê do mercado, o visual já é usado no Honda HR-V desde o seu lançamento, em 2015. Mas ele nunca foi classificado como tal. Curiosamente, sua a próxima geração deve ter estilo mais parecido com o C4 Cactus. A versão escolhida do Honda foi a EXL, a mais completa com motor 1.8 aspirado e câmbio automático CVT. A Touring usa o motor 1.5 turbo, descartado porque, além de ser muito caro (custa R$ 142.700), o motor turbo do Nivus é apenas 1.0. 

Pelo mesmo motivo, escolhi o C4 Cactus 1.6 aspirado. A outra opção é o 1.6 turbo, chamado THP. A versão mais completa com o motor mais simples é a Feel Pack (mas as fotos que ilustram a matéria são da série especial C-Series, um pouco mais barata que esta). Não tem um estilo arredondado nem inclinado como os rivais, mas parece um cupê por ter teto baixo e linha de cintura alta. Ele também chama atenção pelos faróis no para-choque e luzes de LED no alto do capô. 



Versão especial C-Series


Estilo e Acabamento 

Mesmo com cinco anos, o estilo de queda suave das linhas das janelas do HR-V, mesclado com o teto de caída normal, ainda está atual e, por isso, vence o item, seguido pelo Nivus, que tem traços agradáveis, mas com tendência a ficar rapidamente defasado. Parece o Focus de segunda geração. Em seguida vem o estranho desenho do C4 Cactus, que é feio, mesmo. 

O acabamento mais refinado também é o do Honda HR-V. É o único que tem revestimento macio que imita couro no painel e no console, além das portas. Depois, vem o acabamento do Nivus, que é repleto de plásticos duros, mas tem melhor qualidade que o do C4 Cactus, que parece de um carro de brinquedo com tanto plástico. 



Versão Shine Pack



Espaço interno e Porta-malas

O HR-V mantém a sua superioridade no espaço interno para os passageiros de trás. Segundo medições da revista Quatro Rodas, oferece mais folga para os ombros (1,52m) e cabeça dos passageiros (95 cm) e fica em segundo no espaço para os joelhos (24 cm). Em segundo lugar, empatados, ficaram o C4 Cactus e o Nivus. O Citroën se destaca no espaço para as pernas (31 cm), mas é mais apertado na altura (91 cm) e na largura (1,47m). Já o Volks ficou em segundo para a cabeça (94 cm) e ombros (1,49m), porém, os joelhos vão bem apertados com apenas 19 cm. 

O maior porta-malas do trio também é do SUV da Honda. São 437 litros (somados os seis litros do fundo falso) contra 415 do Volkswagen e apenas 320 litros do Citroën. 

Foto estrangeira, que se aproxima da versão top Touring, com motor 1.5 Turbo

Versão Shine Pack

Foto: Daniel Teixeira (O Estado de São Paulo - Estadão)



Motor e Câmbio

O Nivus só tem uma opção de motor: o turbo com injeção direta 1.0 TSI, chamado 200 TSI pela Volkswagen, que equipa as duas versões: Comfortline e Highline. Seus concorrentes HR-V e Cactus também têm opção de motor turbo, mas com cilindradas maiores (1.5 e 1.6, respectivamente). Mas foram considerados neste comparativo apenas os motores aspirados (1.8 do Honda e 1.6 do Citroën) para estes não levarem muita vantagem. 

Mesmo assim, o HR-V 1.8 acabou se sobressaindo, com 139 cavalos com álcool e 140 cv com gasolina (um dos raros casos em que o combustível de petróleo rende mais que o vegetal). Mesmo com o turbo, o Nivus é apenas o segundo mais potente, com 116 cv gasolina e 128 cv com álcool. O 1.6 16v do C4 acabou sendo o mais fraco, com 115 e 118 cv, respectivamente. 

No câmbio automático, o Honda mais uma vez se destaca por ser CVT e sete marchas simuladas. Volkswagen e Citroën são automáticos comuns e usam seis marchas. 





Desempenho e Consumo 

Se o motor do Honda HR-V é mais forte, no desempenho prevaleceu o downsizing do TSI do Nivus, que é um pouco mais rápido (11,2 segundos de 0 a 100 km/h, segundo a revista Quatro Rodas) e retoma em menos tempo (7,6 segundos entre 80 e 120 km/h) que o rival nipo-paulista (que acelera em 11,7 seg. e retoma em 8,2 segundos). Já o C4 Cactus ficou para trás com 13 segundos de aceleração e 9,1 segundos de retomada. 

A eficiência do motor 200 TSI do Volkswagen foi comprovada no consumo. Ele é o mais econômico, mas também com pequena vantagem, fazendo o Nivus percorrer 26,7 km/l na soma dos percursos em cidade (11,5 km/l) e estrada (15,2 km/l). Sete décimos atrás (26 km/l) vem o HR-V, que anda 11,7 km/l na cidade e 14,3 km/l na estrada. Novamente em terceiro ficou o C4 Cactus, com 10,6 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada, somando 24,2 km/l. Os números também são da Quatro Rodas. 


Frenagem (segurança) e Ruído (conforto)

O Nivus conquistou a tríplice coroa das provas dinâmicas da revista Quatro Rodas vencendo, também, a frenagem, parando a 80 km/h com incríveis 19,4 metros, um recorde da publicação. A 120 km/h parou em apenas 50,7 metros, que também impressiona. Desta vez, o segundo colocado foi o C4 Cactus, com frenagem em 25,5 metros a 80 km/h e 58,3 metros a 120 km/h. E pela primeira vez, o HR-V ficou para trás, com 26,2 e 60,3 metros, respectivamente.

No ruído, o C4 Cactus enfim venceu uma. A 80 km/h, o modelo da Citroën é ligeiramente mais silencioso, com 62,9 decibéis. Empatados em segundo lugar, ficaram o Volkswagen com 63,3 dBA e o Honda, 63,7 dBA. Já a 120 km/h, o HR-V tem 69,5 dBA. O Cactus ficou com 69,8 dB e o Nivus, com 70,1 dB. 





Preço, Equipamentos e Assistência

O C4 Cactus é o mais barato, por R$ 101.990 na versão Feel Pack, mas é a que traz menos equipamentos. Embora não venha tão pelado, pois tem sistema multimídia de 7 polegadas sensível ao toque e compatível com Android, Apple além de comandos do ar condicionado digital integrados, câmera de ré, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, entrada e partida sem chave, rodas de liga-leve diamantadas de 17 polegadas e sensor de chuva, ele não tem piloto automático, sequer o comum, e deve os airbags de cortina (só tem os frontais e laterais). Sensor de estacionamento traseiro e retrovisores elétricos são opcionais. Contando os itens estéticos, completo, o preço do Citroën chega a R$ 107.354. 



Enquanto eu fazia as contas do comparativo, o Nivus era o mais barato do trio. Custava R$ 99.950. Mas, ao revisar os preços para diagramar o post, ele sofreu aumento, passou para R$ 102.050 e foi ultrapassado pelo Cactus. Ainda assim, é o mais equipado. Se destaca por oferecer piloto automático adaptativo (ACC), já incluso na versão, opcional na básica Comfortline, que não apenas controla a velocidade como também a distância para o veículo da frente e ainda freia em caso de emergência. Também tem sistema multimídia VW Play, com tela de 10 polegadas e câmera de ré, quadro de instrumentos eletrônico (chamado Active Info Display), ar condicionado digital, seis airbags, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em subidas, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, detector de fadiga do motorista, entrada e partida sem chave, sensores crepuscular e de chuva e, ainda os triviais bancos revestidos em couro sintético, trio elétrico (espelhos rebatíveis eletricamente também), ajuste de altura e alcance da coluna de direção e ajuste de altura do banco do motorista. O modelo da Volkswagen também tem alguns opcionais estéticos, como carcaça preta dos retrovisores externos, logotipos escuros na traseira e na lateral e rodas de liga-leve diamantadas de 17 polegadas (as de série têm acabamento comum, fosco) por R$ 720 e rack de teto longitudinal, sem custo. Com eles, o Nivus volta a ser mais barato que o Cactus completo, mas os opcionais não combinam com a carroceria preta, sem custo, pois oferecem, obrigatoriamente, o teto preto e, para se ter o rack é preciso do pacote opcional. Uma distribuição burocrática de equipamentos que só confunde quem analisa. 




O HR-V tem quase os mesmos itens já citados do Nivus, mas faltam o quadro de instrumentos eletrônico (que o Cactus também tem, embora seja apenas digital), o sensor de chuva e o piloto automático adaptativo (tem o comum). Em compensação, ele traz freio de estacionamento elétrico, ausente nos rivais. Fica em segundo lugar em equipamentos, porém, é o mais caro, custando R$ 117.400 na versão EXL. 




Em relação às cores, os três modelos oferecem poucas opções sem custo. Nivus (Preto Ninja) e HR-V (Branco Tafetá Sólido) só têm uma. Já o C4 Cactus (Preto Perla e Vermelho Aden) dispõe de duas. O Volkswagen ainda cobra 450 reais por uma cor sólida, a Branco Cristal, e R$ 990 por duas opções, chamadas especiais: Vermelho Sunset e Cinza Moonstone, sendo que ambas ainda podem ter o teto preto pelo mesmo preço. As metálicas são apenas duas (Cinza Platinum e Prata Sirius) e custam R$ 1.570. Não há cor perolizada. O Honda tem três deste tipo (preto, vermelho e branco) e a marca cobra R$ 1.700 pelas duas primeiras e também pelas metálicas (azul, prata e cinza). A branca custa R$ 2.000. No site da Citroën, temos a impressão de que a oferta de cores é a mais variada. Mas são as mesmas cores oferecidas com o teto diferenciado (preto sobre vermelho, cinza e branco e a única opção Branco Banchise para a carroceria Preta Perla Nera). Na verdade, são duas tonalidades metálicas de cinza (Aluminium e Grafito, custam R$ 1.400) e uma branca, Nacré, por R$ 1.800. As duas cores básicas com teto diferenciado custam mil reais. As duas cinza saem por R$ 2.400 e a Branca Nacré com teto preto custa R$ 2.800. 

No comparativo anterior, entre as picapes Strada e Saveiro, a Volkswagen foi derrotada pela primeira vez no quesito assistência dos comparativos do Guscar por ter menos concessionárias que uma marca concorrente. A rede da montadora alemã, que já chegou a ter 700 em outros tempos, caiu para 600 agora está em 540, mas aqui neste encontro de SUVs cupês compactos, ela ainda leva vantagem, contra as 219 da Honda e apenas 95 da Citroën. 




Conclusão 

3º Citroën C4 Cactus Feel Pack 1.6 16v

Com o seu desenho estranho, para não dizer feioso (o modelo pré-face-lift vendido na Europa era ainda pior), o C4 Cactus se despede dos comparativos do Guscar com um terceiro lugar distante dos rivais. Só venceu no nível de ruído e no preço (de última hora). Se não tivesse ficado em segundo em itens como preço e frenagem, teria ficado com menos pontos ainda. No câmbio e no espaço interno ele não foi o pior, mas junto com o Nivus, ficou atrás do HR-V. O Citroën ficou para trás na potência, desempenho e consumo, por culpa do velho, fraco e beberrão motor 1.6 16v (o mesmo da nova geração argentina do Peugeot 208, recém-lançado no Brasil), E também ficou em terceiro no estilo, acabamento, porta-malas, assistência e equipamentos. Só não coloquei o Cactus com o 1.6 THP porque ia desequilibrar o comparativo, mas este motor é bem melhor e talvez melhorasse a sua colocação. 



2º Honda HR-V EXL 1.8 16v

Em 2017, o Honda HR-V perdeu um comparativo do Guscar pela primeira vez., para o Ford Ecosport, que tinha acabado de ganhar um face-lift. No ano passado, ficou em terceiro lugar, atrás do T-Cross e do chinês Chery Tiggo 5X. E agora perde a terceira consecutiva, por um ponto, e de novo para um Volkswagen, desta vez, o Nivus. 

O japonês, que também está se despedindo dos comparativos do blog, teve mais vitórias que o alemão, se destacando no motor, câmbio, porta-malas, estilo, acabamento e espaço interno. Mas o mau resultado na frenagem e o preço mais caro dos três acabaram facilitando a vida do rival, que venceu por apenas um ponto.



1º Volkswagen Nivus Highline 200 TSI (1.0 turbo)

Primeiro SUV compacto assumidamente cupê, o Nivus estreia com vitória em um comparativo com concorrentes de estilo próximo a ele. Se destacou na lista de equipamentos, em três das quatro provas dinâmicas da revista Quatro Rodas (desempenho, consumo e frenagem) e não ficou para trás em nenhum item (só empatou em segundo com o C4 Cactus no câmbio e no espaço interno e com o HR-V no ruído). Inicialmente, a vantagem tinha sido de dois pontos, mas o site da Volkswagen oficializou o aumento de preço na hora em que eu revisava o texto. Ele deixou de ser mais barato que o Citroën e acabou perdendo um ponto. Por pouco, não tive que reescrever toda a conclusão do comparativo (mas foram necessárias algumas correções no texto). Mesmo com um estilo com tendência a ficar desatualizado rápido, o Nivus tem boas qualidades como carro e agora resta saber se ele vai se sair melhor que o irmão T-Cross, tanto no mercado quanto em futuros confrontos. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
FOTOS: DIVULGAÇÃO E ESTADÃO (HABITÁCULO DO NIVUS)
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS