Ao lançar a nova geração do Corolla no Brasil, a Toyota abriu mão do motor turbo e dotou a versão top Altis de motorização híbrida, com um propulsor flex 1.8 de ciclo Atkinson e outros dois elétricos, com bateria.

A decisão foi pensada mais no futuro, quando carros elétricos devem se tornar maioria, do que no presente, quando os seus principais concorrentes ainda utilizam motores a combustão e com turbo. No texto de lançamento do Corolla no Guscar, cheguei a dizer que não dava para comparar com os turbinados Chevrolet Cruze Premier 1.4 e Honda Civic Touring 1.5. Mas, motivado pelo comparativo da edição de outubro da revista Carro, com os mesmos modelos, não resisti. Se ela pode comparar, por que eu não posso?

A princípio, o Corolla levará desvantagem no desempenho e na potência, mas ganhará pontos no consumo. Nos demais itens, compete em igualdade. Assim, baseado nos números da publicação, decidi comparar o Corolla Hybrid com os dois, que também ganharam novidades (um face-lift, mais profundo no Cruze, que também ganhou wifi a bordo). Para dar uma diferença ao comparativo da revista, coloquei, também, o Volkswagen Jetta 250 (1.4) TSI R-Line na disputa.




Estilo

Apesar de dividir o estilo mais antigo dos quatro com o Cruze (ambos foram revelados mundialmente em 2015), o Civic, que ganhou novo para-choque dianteiro e perdeu os repetidores de indicação lateral nos retrovisores externos (foi para a ponta lateral do para-choque), ainda é, com o seu estilo fastback, o mais elegante e original dos quatro. Em segundo lugar vem o Jetta, com a sua caída do teto mais suave. Mais profundo em seu face-lift, em que ganhou filetes ondulados e o emblema Chevrolet mudou de posição para a barra central (por enquanto, apenas na versão top Premier), o Cruze ficou em terceiro. Apesar de estar mais chamativo de frente, o Corolla continua conservador de perfil perto dos concorrentes e ficou em quarto lugar.





Acabamento

Se a modernização do estilo não melhorou a posição do Corolla, não podemos dizer o mesmo do acabamento, que evoluiu em aparência e qualidade, a ponto de ser o melhor dos quatro. Tem material macio em boa parte do painel e nas portas. A parte inferior do painel e superior das portas é revestida de bege claro. Em segundo lugar, ficaram empatados o interior escuro de Jetta e Civic, com menos soft touch e plástico duro na parte inferior do painel. Apesar do charme do interior marrom, o Cruze ficou em último porque tem menos material macio (só na parte central do painel e das portas). No Chevrolet, o plástico duro é mais aparente. Pode não contar pontos, mas, além disso, o Cruze é o único dos quatro com quadro de instrumentos analógico físico.






Espaço interno e Porta-malas

Além de evoluir no acabamento, o Corolla se destacou também no espaço interno. Segundo a revista Carro, a distância para os joelhos de quem vai no banco de trás, é de 31 cm. Logo atrás vem o Cruze, com 29 cm. Civic e Jetta empatam com 28, mas o Volkswagen leva vantagem por ter o maior espaço para a cabeça (91 cm do assento ao teto) entre os quatro (divide com o Corolla). Civic e Cruze têm 90 cm. Fica difícil de imaginar um modelo tão imponente quanto o Civic não ser dos mais espaçosos, mas as medidas da carroceria mostram que a imponência é pura impressão. Sua distância entre-eixos (2,70m) é a mesma do Corolla e do Cruze e ele é um dos mais compactos (4,64m, à frente apenas dos 4,63m do Corolla). O mais longo é o Jetta, com os seus 4,70m, mas com distância entre-eixos de 2,68m.

No porta-malas, aí sim, o Civic tem a melhor capacidade: 517 litros, seguido pela Jetta, com 510. O Corolla tem 470 e o Cruze apenas 440.




Motor e Câmbio

É no motor que começa a desvantagem do Toyota Corolla. A marca japonesa optou por um conjunto híbrido, formado por um propulsor flex 1.8 de ciclo Atkinson, o primeiro no mundo a ser combinado com dois elétricos. Pena que a potência do motor a combustão não passe de 101 cavalos com álcool. Com gasolina é de apenas 98 cv. Combinada com o elétrico é de apenas 123 cavalos.

Enquanto isso, os seus concorrentes que ainda estão no presente (ou no passado) usam motores turbo. Cruze e Jetta são flex e 1.4 (o Volkswagen usa a nomenclatura 250 TSI, referente ao torque em Nm, para identificar o motor) e têm potência de 150 cavalos com gasolina, mas o Chevrolet entrega 153 cv com álcool, combustível com o qual o Jetta tem os mesmos 150 cv. O Civic é 1.5 e o único que não é flex. Em compensação, é o mais potente, com 173 cv.

Em relação ao câmbio, o Civic usa o automático CVT, de sete marchas simuladas. Cruze e Jetta usam o automático convencional, de seis marchas, mas o Chevrolet não tem borboletas no volante como o Volks. As mudanças manuais são feitas apenas na alavanca. Já o Corolla usa um transaxial de apenas uma marcha.





Desempenho

Os fracos motores do Toyota Corolla acabaram, como se esperava, prejudicando o seu desempenho. De acordo com a revista Carro, a aceleração de 0 a 100 km/h em 11,3 segundos e a retomada entre 80 e 120 km/h em 9 segundos deixaram o sedã para trás, ao contrário do seu comercial de TV.

Na disputa pelo segundo lugar, o Cruze levou pequena vantagem sobre o Jetta, com 8,4 segundos na aceleração e 5,8 segundos na retomada. O Volkswagen ficou com 8,9 segundos e 5,9 segundos.

Quem praticamente sobrou no desempenho foi o Honda Civic, com 7,75 segundos de aceleração e 5,38 segundos na retomada, que não é tão distante dos outros modelos turbinados.





Consumo

Se a baixa potência do motor do Corolla prejudicou o seu desempenho, pelo menos o colocou (bem) à frente no consumo. Com gasolina no tanque do motor a combustão, que funciona como um gerador na cidade, a média foi de 17,7 km/l, segundo a Carro. Na estrada, o percurso foi de 18,6 km/litro.

Entre os que usam somente motores a combustão e com turbo, o mais econômico é o Honda Civic, com 11,5 km/l na cidade e 16 km/l na estrada. Em terceiro lugar ficou o 1.4 do Jetta, que perdeu na cidade para o Cruze (10,7 contra 10,8 km/l), mas vai mais longe na estrada, com 15,3 contra 13,9 km/l do Chevrolet.


Frenagem

Em um quesito em que disputa com igualdade de condições, o Corolla ficou em segundo lugar em frenagem a 120 km/h. Para em 54,5 metros. O vencedor foi o Civic, que freia em 53,7 metros. Cruze e Jetta empataram tecnicamente, com o Chevrolet levando pouca vantagem (56,7 contra 56.9 metros). A 80 km/h todos ficaram na faixa dos 24 metros. Os números também são da revista Carro.





Nível de ruído

O Corolla poderia ter levado vantagem no nível de ruído, por ser um carro híbrido em que o motor elétrico não faz muito barulho. Mas, a 120 km/h, acabou ficando com 67,5 decibéis, pela Carro. À frente dele vem o Honda Civic, com 65,9 dB. O Cruze ficou em segundo, com 64,8 dB. O mais silencioso é o Volkswagen Jetta, com 63,2 decibéis.


Equipamentos e Preço

Por pouco, o Corolla é o mais equipado. Na versão Altis Premium, traz o pacote Safety Sense, com piloto automático adaptativo, farol alto automático, alerta de desvio de faixa e frenagem autônoma de emergência, além de sete airbags (dois frontais, dois laterais, dois de cortina e joelho para o motorista), controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de subida em rampa, acendimento automático dos faróis em LED (como as lanternas), luzes diurnas nos faróis, quadro de instrumentos eletrônico, entrada e partida sem chave, sensor de chuva, espelhos retrovisores externos rebatíveis eletricamente, ar condicionado digital de duas zonas, bancos dianteiros com regulagem elétrica (motorista com oito ajustes e passageiro com quatro), teto solar e central multimídia com Android Auto e Apple Car Play.

O Cruze Premier vem em segundo porque, embora traga sistema de estacionamento automático, alerta de ponto cego, manutenção (e não apenas um simples alerta) do veículo em faixa, carregador de celular sem fio e internet wifi a bordo, que o Corolla não tem, e o mesmo sistema de frenagem automática de emergência, tem apenas seis airbags, regulagem elétrica apenas no banco do motorista, ar condicionado digital de apenas uma zona e não traz faróis em LED, teto solar e nem ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros.

Em terceiro lugar, o Jetta R-Line se destaca pelo piloto automático adaptativo, monitoramento frontal Front Assist, a seleção do perfil de condução (presente também no Corolla), bloqueio eletrônico de diferencial e o quadro de instrumentos eletrônico Active Info Display. Ele também ar condicionado digital de duas zonas, faróis em LED, seis airbags, assistente de partida em rampa, sensor dos faróis e chuva, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema multimídia com navegação e sistema de entrada e partida sem chave. O teto solar é opcional.

O Civic Touring empata com o Jetta por ter praticamente o mesmo nível de equipamentos do Volks. Ele tem banco do motorista com ajuste elétrico, carregador sem fio, wifi, partida do motor à distância e alerta de ponto cego, que o Jetta não tem, mas peca por não oferecer o Honda Sensing, itens de automomia semelhantes ao Cruze e ao Corolla. Se tivesse se igualaria aos dois. Entretanto, não faltaram equipamentos como sistema multimídia, entrada e partida sem chave, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, quadro de instrumentos eletrônico, piloto automático, teto solar, faróis full-LED, entre outros.

O mais barato é o Chevrolet Cruze Premier, que custa R$ 122.890, já com a pintura metálica Vermelho Edible Berries, R$ 123.640 com a sólida Branco Summit, R$ 124.490, com outras cinco opções de cores metálicas, ou R$ 124.540 com pintura perolizada (Branco Abalone, a única). Já equipado com o teto solar opcional, o Jetta R-Line vem sem segundo, por R$ 124.980 com pintura sólida, R$ 126.460 com pintura metálica (apenas duas opções) e R$ 126.560, com a única perolizada Preto Mystic. O terceiro colocado, Toyota Corolla custa R$ 130.990 na cor Branco Polar, a única sólida oferecida, R$ 132.940 em cinco opções de cores metálicas, e R$ 133.240 na cor Branco Pérola, a única perolizada. O Honda Civic é o mais caro, custando R$ 134.900. As pinturas metálicas e perolizadas custam R$ 1.350 e as especiais, que o site da montadora não informa quais são, custam R$ 1.500. 





Conclusão 

Infelizmente, o quarto lugar do Corolla foi previsível. Apesar das vitórias no acabamento, na lista de equipamentos, espaço interno e no consumo, onde a versão Hybrid tem vantagem nítida, o Toyota ficou atrás, como era esperado, na potência do motor, no câmbio e no desempenho. Além disso, também tem ruído alto e estilo conservador demais (mesmo tendo evoluído) frente aos concorrentes. O preço alto e o porta-malas ainda na faixa dos 400 litros também atrapalharam. Além dos destaques nos itens, bom resultado só na frenagem. A Toyota pode ter pensado no futuro da motorização, mas se tivesse colocado no Corolla Hybrid o novo 2.0 de injeção mista com o CVT de 10 marchas das outras versões, poderia estar à frente no futuro e no presente.

Curiosamente com a mesma cilindrada no motor turbo (1.4), Cruze e Jetta brigaram ponto a ponto pelo segundo lugar. Apesar de ter vencido mais itens (preço e assistência contra apenas o ruído do rival), o Chevrolet acabou ficando em terceiro lugar, a um ponto atrás do Volkswagen. Tirando as vitórias, o Cruze ficou em segundo no motor, câmbio (empatado com o Jetta), desempenho, ruído, espaço interno e lista de equipamentos. Foi o mesmo número de segundos lugares do rival, mas ficou em terceiro porque ficou em último no consumo, no porta-malas e no acabamento. 

Já o Jetta, mesmo só tendo vencido um item e ficado em segundo em outros seis (preço, câmbio (empatado com o Cruze), porta-malas, estilo, acabamento e assistência), conquistou o segundo lugar geral por não ter ficado em último em nenhum item. Seus piores resultados foram no motor, desempenho, consumo, frenagem (empatado com o Cruze), espaço interno e equipamentos (empatado com o Civic). 

O Honda Civic sobrou no comparativo, tanto no número de pontos (38) quanto no de vitórias (seis). Ele se destacou na potência do seu motor turbo 1.5, no câmbio CVT, no desempenho, frenagem a 120 km/h, porta-malas e estilo. Também se saiu bem no consumo e no acabamento - dividido com o Jetta, itens em que ficou em segundo lugar. Os bons resultados deram margem para que ele pudesse ser o mais caro e o mais apertado, além de ser o segundo mais ruidoso e da Honda ter a segunda menor rede de concessionárias, sem deixar de se manter como o melhor sedã médio vendido no país (venceu o último comparativo da categoria feito pelo Guscar em 2017).


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA CARRO