Primeiro sedã compacto da Ford no Brasil, o Corcel foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo, em 1968. O nome aproveitou o sucesso do Mustang nos Estados Unidos e também fazia referência a uma raça de cavalos. 

O Corcel tinha quatro portas, linhas retas, bom espaço (tinha opção de bancos dianteiros individuais ou um inteiriço), boa visibilidade, bom acabamento e posição de dirigir cômoda. Seu projeto, chamado M, era da Renault e aqui no país seria lançado pela Willys, mas, quando a Ford comprou esta marca um ano antes, ela assumiu o desenvolvimento, fazendo algumas modificações no motor, câmbio e suspensão para se ajustar ao terreno irregular do país. Na Europa, o projeto foi lançado como Renault 12 e também tornou-se um carro emblemático.


Renault 12


O motor do Corcel era de quatro cilindros, 1.3 de 68 cavalos brutos de potência. Em seu primeiro ano de mercado, em 1969, o Corcel vendeu quase 50 mil unidades.




Naquele mesmo ano foi lançada a versão cupê, de apenas duas portas. Logo depois, a sua versão esportiva GT com teto de vinil, faróis de milha no pára-choque, faixa preta no capô e na grade, mais instrumentos no painel e o mesmo motor 1.3 com dois carburadores para passar a render 80 cavalos. 




Em 1970 surgiu a perua Belina, também de duas portas, com tanque maior (63 contra 51 do sedã). Uma de quatro portas chegou a ser testada, mas não foi lançada. A versão de topo, chamada Luxo Especial, tinha pneus de faixa branca e adesivos na lateral imitando madeira Jacarandá, para lembrar as antigas peruas norte-americanas, que tinham a parte da carroceria de madeira de verdade. Como opcional, havia bagageiro no teto. Nesse ano, o Corcel foi o responsável pelo primeiro recall do país, ao convocar os seus proprietários para reparar a coluna de direção.


No ano seguinte ocorreu a primeira reformulação frontal. A grade de diversos filetes cromados, com uma saliência em V na frente, inspirada no Renault 16, e luzes de direção nas extremidades, ao lado dos faróis redondos, deu lugar a um conjunto mais reto e um emblema. Os piscas foram para o para-choque. Sedã e coupé ganharam lanternas quadradas, pequenas e duplas. O GT recebeu capô inteiramente preto com difusor de ar, faróis de milha na grade e motor 1.4 com 85 cavalos na potência na versão XP.






Na linha 73 as modificações frontais foram mais profundas. Os filetes da grade passaram a ser verticais, a capela dos faróis, ainda redondos, ficou mais alta e as lanternas voltaram a ser inteiriças. O conjunto foi inspirado no médio Maverick, lançado naquele mesmo ano. O motor 1.4 passou a ser de série para todas as versões. O GT passou a ter faixas duplas no capô. 



Em 1975 o Corcel ganhou mais uma alteração na grade (que voltou a ter filetes horizontais). Outra novidade foi a versão luxuosa LDO (Decoração Luxuosa Opcional). Era a despedida da primeira geração que daria lugar, no final de 1977, ao Corcel II, com carroceria mais moderna e reta.






Corcel II

Batizado de Corcel II (hoje seria New Corcel), o novo modelo parecia maior, mas tinha o mesmo comprimento de 4,47 metros e a distância entre-eixos de 2,44m. A altura baixou de 1,37 para 1,35m. Só a largura aumentou de 1,62 para 1,66m. A frente ficou mais longa, com a grade maior, filetes mais aerodinâmicos e alinhados aos faróis, que cresceram e se tornaram retangulares pela primeira vez. As luzes de direção passaram a ficar ao lado deles. Como não tinha mais versão de quatro portas, sua traseira tinha um estilo que misturava um fastback com três volumes. A traseira também tinha lanternas retangulares, como no modelo antigo, só que mais integrados ao desenho da carroceria.




O interior tinha painel em duas peças, ou seja, o amplo quadro de instrumentos (eram três redondos, bem afastados) era montado entre o gabinete, com muito plástico, inclusive nas imitações de madeira. As versões eram a básica, L, LDO (com interior acarpetado e os apliques em imitação de madeira) e GT, com faróis auxiliares sob o para-choque, pneus radiais, rodas escurecidas com aros cromados e pintura preta ao redor das janelas e no capô, que não agradou. Por dentro, tinha um conta-giros. A Belina também foi reestilizada, com a janela lateral traseira inteiriça (na versão L) ou dividida.




Para decepção dos ávidos por novidades, o motor continuou sendo o 1.4 de 72 cavalos do modelo anterior. Somente na linha 1979 passou a 1.6, com 90 cavalos de potência bruta, pois a líquida, referência usada atualmente, era de 71 cv.

A versão a álcool veio logo depois, em 1980, mesmo ano do lançamento da versão esportiva Hobby (adotada quatorze anos depois no Escort 1.0), com as rodas escurecidas e aro cromado do GT, que ficou menos chamativo, com pintura preta apenas nas saias laterais e para-lamas.



O Corcel II também deu origem ao famoso e luxuoso Del Rey em 1981, que tinha itens inéditos no país na época, como ar condicionado integrado ao painel, vidros elétricos e teto solar. No ano seguinte, duas novidades: a picape Pampa, com capacidade de carga para 600 kg e distância entre-eixos maior (2,58m) e, em 1983, a perua Scala, que era a Belina com a frente do Del Rey.


Em 1984, o Corcel II ganhou o motor CHT 1.6 do Escort, na verdade uma atualização do bloco do Corcel de primeira geração. Tinha as cilindras 1.3 e 1.6, que rendia 63 cavalos com gasolina e 72 cv com álcool (vale lembrar que os combustíveis eram vendidos separados, pois o motor ainda não era flex).No ano seguinte, o II desapareceu do nome do Corcel e ele ganhou uma nova frente, quase junto com a linha Del Rey,, de quem herdou o painel antigo deste, e nova designação de versões, que passaram a se chamar L e GL. A Belina ganhou tração quatro por quatro, mas foi um fiasco.

O Corcel saiu de linha em 1986, após 1,4 milhões de unidades produzidas. Del Rey e Belina duraram até 1991. E a picape Pampa só foi substituída pela Courier em 1997. O Corcel conquistou três títulos de Carro do Ano da Autoesporte (1969, 1973 e 1979), gerou uma família e deixou saudades pelo espaço e bom acabamento.





TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
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