Há vinte anos, o Brasil vivia o último ano da sua economia próspera, com moeda estável, apenas um pouco mais cara que o dólar e atraindo investimentos estrangeiros. Montadoras já instaladas no país, como a General Motors, fabricavam aqui os seus melhores modelos, poucos meses depois de lançados na Europa, como as segundas gerações do Vectra e do Corsa.

A calmaria financeira também motivou a montadora de matriz norte-americana a importar da Europa, embora com um certo atraso, interessantes cupês esportivos como o Calibra, derivado do Vectra, e o Tigra, lançado no Brasil exatamente em 1998, importado da Espanha, quatro anos depois de chegar ao mercado europeu e cinco após ser apresentado como conceito de um roadster no Salão de Frankfurt 1993.

Opel Tigra Roadster 1993

Construído sobre a plataforma do Corsa de segunda geração (primeira para nós), o Tigra acabou se tornando um atraente cupêzinho de estilo arredondado, com frente sem grade entre os faróis semiovais e tampa traseira de vidro convexo. As lanternas, em quarto de círculo, tinham a parte superior integradas ao vinco que simulava um aerofólio. Tinha 3,92m de comprimento, quase vinte centímetros mais longo que o hatch que lhe deu origem, que media 3,73m. A distância entre-eixos era de 2,44m.


O interior, na parte da frente, porém, destoava da proposta esportiva do carro, pois o painel era o mesmo do Corsa, apenas com a diferença do volante de três braços (revestido em couro) que seria usado no médio Astra, lançado meses depois. Os cintos de segurança tinham um extensor para facilitar o acesso, mesmo assim, a coluna central muito recuada continuava incomodando. Atrás, havia espaço para apenas duas crianças ou passageiros de estatura baixa. Popularmente, o habitáculo é chamado de 2+2. O espaço que seria do passageiro do meio era ocupado por um carpete que se unia ao elevado túnel da transmissão. No encosto, a estrutura em plástico duro e um buraco para acessar o pequeno porta-malas de apenas 214 litros sem abrir a pesada tampa de vidro.



O motor também não condizia muito com a proposta do Tigra. Era um Ecotec 1.6 16v de 100 cavalos, o mesmo do Corsa GSi, a quem o cupê pretendeu substituir no mercado brasileiro, só que com seis cavalos a menos. E apenas oito a mais que o 1.6 8v do Corsa comum. 

A aceleração de 0 a 100 km/h. segundo a revista Quatro Rodas era feita em 10,53 segundos. O consumo era bom: 10,58 km/litro na cidade e 14,23 km/l na estrada... e com o ar ligado. A frenagem a 80 km/h era alta. O Tigra levava 30,2 metros para parar totalmente e o ruído também era elevado, na faixa de 66 decibéis. Mas na Europa, ele também não tinha nenhum motor de impressionar. Além deste, só usava um 1.4 de 90 cv.


O Tigra custava apenas R$ 26.000 na época e trazia de série ar condicionado, airbag para o motorista, direção hidráulica, rádio/toca-fitas (CD já existia, mas não era oferecido, assim como retrovisores elétricos e teto solar) e vidros e travas elétricos. O airbag do passageiro e os freios ABS eram opcionais e o preço ia para 28 mil reais. Mas os freios traseiros eram a tambor e as rodas de 15 polegadas do europeu foram trocadas pelas de 14" do Kadett GLS.

Os planos da GM era fazer o Tigra concorrer com o Hyundai Coupé e o Mazda MX3 (também já falado nesta seção Lembra de Mim?), que eram mais caros que o modelo da Chevrolet. O sul-coreano custava na faixa dos 36.500 dólares e o japonês US$ 25.950 (ou R$ 29.842, já que naquela época a moeda americana valia R$ 1,15). Convertido para o dólar, o Tigra custava cerca de 22.608 dólares. Com a cotação de hoje seria vendido por R$ 83.875, com o dólar a R$ 3,71. Mas os orientais saíram do mercado brasileiro logo depois. 

Na Europa, o Opel Tigra concorria com o Ford Puma e também podia ser comprado com câmbio automático de quatro velocidades. O vendido pela Chevrolet no Brasil só tinha o manual de cinco. Talvez não tenha dado tempo, pois, em 1999, teve início a crise cambial, que dobrou a cotação do dólar, disparando o custo de importação do cupêzinho.

A GM chegou a trazê-lo da Alemanha, já com airbag para o passageiro e freios ABS de série. Mas, apesar do consumo e do estilo, o alto custo de manutenção de peças externas como faróis e vidros desestimularam novas importações e o Tigra saiu de cena no Brasil em 1999, após 2.652 unidades, que hoje valem pouco menos que 21 mil reais, cotação menor que o seu preço de lançamento há vinte anos.   


Na Europa, durou mais um ano. Entretanto, voltou em 2004 na forma de um conversível de teto rígido (opcional), chamado Tigra Twin Top, baseado na terceira geração do Corsa (segunda para nós), que chegou a ter um motor 1.8 Ecotec de 125 cavalos. Também tinha o mesmo painel do hatch. Durou até 2009 e não teve substituto. Nunca sequer foi cogitado para o nosso país, por motivos que eu já nem gosto de comentar, porque é antiético. 

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO