Criadora de esportivos com nomes de touros, a Lamborghini começou a fabricar automóveis desde que o seu dono, Ferruccio Lamborghini, fabricante de tratores, foi desafiado pelo arrogante dono da montadora do seu problemático carro, Enzo Ferrari, a produzir o seu próprio veículo, já que reclamava tanto da sua Ferrari. Assim nasceu o cupê Miura, em 1966. 

Passado pouco mais de meio século, a Lamborghini lança o seu segundo utilitário esportivo. Não para responder à provocação de um mau atendimento pós-venda, até porque reclamante e ouvidor (provocador) já não vivem mais. Mas para aderir a uma moda que provocou a extinção das peruas e minivans, já ameaça hatches, sedãs... cupês esportivos e ainda contaminou marcas de esporte e luxo como a Audi, BMW, Mercedes, Porsche, Alfa Romeo e inclusive a Bentley. Seu nome, Urus, que representa uma raça de touros selvagens extinta no século XVII, também chamada Auroque. 



Eu disse segundo utilitário porque a Lamborghini, além dos tratores, já fabricou, entre 1986 e 1993, um fora de estrada de aparência militar, meio picape como a Fiat Toro, mas muito parecido com o extinto Hummer, chamado LM002. 



Lamborghini LM002 - 1986


O Urus já nasce com o DNA de cupês esportivos bovinos da marca italiana de Sant'Agata Bolognese, inclusive no estilo frontal e traseiro. A solução criada para preencher espaço entre o para-choque e o elevado capô é um espetáculo à parte: praticamente toda área é gradeada em imensos favos e três lâminas nas extremidades. As finas lanternas horizontais são a identidade da Lamborghini na traseira. A personalidade do Urus está na lateral alta, de caída diagonal reta com janelas que vão se afinando na parte traseira. Assim como o "ancestral", que surgiu a partir do Cheetah, o estilo do Urus nasceu de um protótipo apresentado na China em 2012. 


Urus Concept 2012

Para quem está acostumado com os Lamborghini rentes ao chão, a altura em relação ao solo do Urus varia entre 15,8 e 24,8 cm, dependendo da suspensão ativa adaptativa. O novo touro mede 5,11m de comprimento, 2,01m de largura e 3 metros de distância entre-eixos. Embora não pareça, é maior em comprimento que o antigo LM002, que tinha 4,95m. As outras medidas são semelhantes, com 2,04m de largura e 3m de entre-eixos. Só altura do jipão que é maior que o modelo novo: 1,85 contra 1,64m. O Urus também tem traços genéticos da Volkswagen, atual proprietária da Lamborghini. A plataforma é a mesma modular MLB usada no Arteon, no Audi Q7, Porsche Cayenne e Bentley Bentayga.  


O interior, com saídas de ar hexagonais e horizontais, lembrando os últimos modelos da francesa Citroën, é revestido de materiais nobres como Alcantara, fibra de carbono, alumínio e madeira. No centro do console, além de vários botões e o seletor ANIMA, o Urus conta com o sistema conectividade e entretenimento LIS III, que agrega informações do carro, TV digital, sistema de navegação, o som Bang & Olufsen, entre outros. O espaço é para cinco passageiros. O porta-malas tem 616 litros, podendo chegar a 1.596 litros. Quem poderia imaginar que um Lamborghini esportivo (e não um jipe rústico como o antigo LM002) poderia levar tanta bagagem e cinco pessoas?

O tal do ANIMA é o seletor de modo de condução, onde é possível escolher entre Sabbia (para areia), Strada (estrada ou normal), Sport (esportivo), Corsa (circuito), Terra, Neve e EGO (onde o motorista faz sua própria seleção). 
 

Se o antigo LM002 tinha um motor V12 de 455 cavalos, o Urus é o retrato do downsizing. pois tem um propulsor V8 4.0 biturbo de 650 cavalos e 86,7 kgfm de torque. O câmbio automático é de oito marchas (suficiente para quem esperava uma transmissão de dez, vista em outras marcas). A tração integral tem vetorização de torque inteligente e as quatro rodas são direcionais. A barra estabilizadora é ativa, acionada por um motor elétrico de 48 volts. Os freios são de carbono cerâmica, garantindo uma frenagem a 100 km/h de 33,7 metros. 

O Urus passa a ser o utilitário esportivo mais rápido do mundo, podendo chegar a 305 km/h, com aceleração de 0 a 100 km/h em 3,6 segundos e 12,8 segundos para chegar aos 200 km/h. Todo esse poder de fogo é descarregado no consumo de 3,8 km/litro na cidade e 7,9 km/l na estrada. Na China haverá uma versão híbrida plug-in, mais barata, com motor V6 3.0, para pagar menos impostos. 

Se ainda fossem vivos, Ferruccio Lamborghini ia matar Il Commendatore de inveja, que logo trataria de mandar produzir um utilitário esportivo Ferrari, o que está perto de acontecer. 

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO