No início dos anos 70, um pequeno cupê, construído em fibra de vidro sobre o chassi do Fusca por um modesto fabricante, era o sonho de consumo dos brasileiros na época: o Puma. A própria Volkswagen tinha o Karmann-Ghia, vendido na época em duas versões de carroceria: a original, de 1962, e a reestilizada TC, que era até mais barato e vendia mais. 

Mesmo assim, Rudolf Leiding, então presidente da Volks no Brasil, decidiu criar um novo esportivo, que teria de ser melhor e mais barato que o Puma. Em novembro de 1970, o departamento de estilo da VW brasileira entrou em ação e desenvolveu o “Projeto X”, guardado a sete chaves. 


No ano seguinte, na Feira da Indústria Alemã, realizada em São Paulo, o protótipo do novo cupê foi apresentado, a pedidos de Leiding. Desenhado por Márcio Piancastelli, que também criou a Brasília e morreu no ano passado, o SP fez tanto sucesso que dividiu as atenções com outro protótipo, o C111, da Mercedes-Benz. 



O modelo definitivo só foi conhecido em junho de 1972. Com algumas modificações, o primeiro Volkswagen inteiramente projetado no Brasil recebeu os nomes de SP1 e SP2, em homenagem ao estado de São Paulo, lugar onde foi criado e produzido. 

Os SP chegaram às concessionárias no mês seguinte. Custavam um pouco mais barato que o Puma, mas dava para comprar dois Fuscas 1300 com o valor do novo cupê da Volks.




Enquanto a carroceria do Puma era de fibra de vidro, a dos SP1/SP2 era de chapa de aço, mais resistente. Por outro lado, o material o tornaria mais pesado e mais lento. Pelo menos, as outras vantagens que o novo modelo teria eram a assistência e a qualidade da marca Volkswagen, em quem o consumidor brasileiro já confiava na ocasião. 



A carroceria dos SP ficou muito bonita. É referência de estilo até hoje. Na lateral se destacavam as entradas de ar ao lado do vidro vigia e o friso vermelho refletivo. O teto caía bem inclinado. A traseira era arredondada e as lanternas, estreitas. A dianteira seguia o padrão estético da VW na época: quatro faróis redondos, recuados em um fundo em forma de trapézio, semelhante à Variant, de quem herdou a plataforma, e à Brasília, que seria lançada no ano seguinte. Os para-choques eram de borracha e o escapamento tinha revestimento cromado e perfurado. O SP foi o carro nacional de série mais baixo a ser produzido, com uma altura de apenas 1,16 metro e motorista ficava a apenas 15 centímetros do chão. O comprimento era de 4,21m, a largura 1,61m e a distância entre-eixos 2,40m.



Por dentro o esportivo era igualmente inovador, com um requinte e conforto nunca antes vistos nos Volkswagens brasileiros. Os bancos podiam ser revestidos em couro e possuíam apoios de cabeça reguláveis e acolchoamento na região lombar. O painel de plástico tinha desenho moderno e envolvente. Atrás do volante - de três raios e "copo" com o logotipo VW impresso, como nos carros de competição - ficavam, da esquerda pra direita, o conta-giros e o velocímetro. No console central estavam o marcador de gasolina, amperímetro, relógio e marcador de temperatura do óleo. Abaixo deles vinha o rádio. Além disso, tinha acendedor de cigarros embutido, saídas para ventilação e luzes nas portas. 



As alavancas do câmbio de quatro marchas e do freio de mão revestidas de jacarandá completavam o requinte apenas do SP2. O limpador de pára-brisas tinha hastes pantográficas, que mantinham a posição ideal das palhetas e, pela primeira vez num carro nacional, o seu comando ficava junto ao volante. 

Os SP tinham apenas dois lugares. Cabiam 140 litros de bagagem na frente e mais 205 atrás dos bancos e acima do motor. O estepe ficava no porta-malas da frente. Os pneus eram radiais 185/70 e as rodas, de aro 14. Os freios dianteiros eram a disco.



O novo esportivo foi lançado com duas variações de capacidade cúbica do motor de quatro cilindros opostos, refrigerado a ar e montado em posição plana na traseira. O SP1 tinha o 1.6 litros e rendia 65 cavalos. No SP2 era o 1.7 e 75 cv. Esta última versão acelerava de 0 a 100 km/h em 17,4 segundos e atingia 153 km/h, infelizmente pouco para a sua proposta. Os mais maldosos o chamavam de Sem Potência. 



Apesar do SP1 ter durado até 1974, foi o SP2 quem ficou mais famoso e é o mais lembrado nesses 40 anos. Mesmo com motor fraco, o carro fez tanto sucesso no exterior que a revista alemã Hobby o anunciou como "O Volkswagen mais bonito do mundo”. As revistas americanas Car and Driver e Road and Track também avaliaram o SP2.



Em seu primeiro ano de produção foram vendidas quase três mil unidades. O Puma só vendeu pouco mais de 400 no mesmo período. Já o Karmann-Ghia, mais barato que o SP2, vendeu bem mais que ambos: pouco mais de quatro mil.  



No entanto, as críticas enfraqueceram as vendas dos SP. Os bancos de couro, opcionais, com o tempo, deixaram de ser oferecidos. O SP3, com motor 1.8 dianteiro e refrigerado à água do Passat, nem passou da fase de protótipo, devido ao alto custo de produção. 

Em fevereiro de 1976, o SP2 tinha a sua fabricação definitivamente encerrada. Foram produzidas 10.193 unidades, das quais 681 foram exportadas para a Europa. 



O sonho de ter um carro brasileiro com a mesma qualidade e espírito dos "Gran Turismo" europeus durou apenas quatro anos. A saída prematura de linha do SP1/SP2 só serviu para reforçar a sua exclusividade.

Hoje, ele é privilégio de seus admiradores, colecionadores e alguns museus, aqui e no exterior. Virou até brinquedo da coleção da Hot Wheels e seu estilo costuma ser atualizado por designers apenas para sonhar com um futuro nostálgico.


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO