Carros subcompactos não são muito populares no Brasil. Mas há quem goste. E para essas pessoas existem opções desde o Mini Dacon dos anos 80, os primeiros Renault Twingo e Ford Ka na década de 90 e o Fiat 500, na última década. Só que o Dacon era fora de série, o francês não é mais vendido no país há mais de quinze anos, o 500 ficou com a importação suspensa por alguns meses e o Ka precisou se transformar em hatch compacto comum para ser aceito no mercado.

Mesmo com modelos que não pegaram, o segmento ainda existe. Atualmente, três opções são o chinês Chery QQ, em sua segunda geração e agora fabricado em Jacareí, interior de São Paulo, o Fiat Mobi e o Volkswagen Up!, que se enfrentam neste comparativo. O também chinês JAC J2 só não foi incluído porque também parou de ser importado. 


O Mobi é até exceção, pois até julho, ele é o veículo da Fiat mais vendido no acumulado de 2017, com 29.933 unidades emplacadas até julho, ocupando o oitavo lugar no ranking geral. Mas o Up! é apenas o 16º, com 20.919 e o QQ sequer aparece entre os 50 primeiros, sendo que vendeu apenas 1.062 unidades em julho e ficou apenas na 74ª posição. 

Todos os três pequenos carros deste comparativo trazem novidades. O QQ agora tem motor flex, que elevou a potência de 69 cavalos para até 75 cv com álcool. O Mobi ganhou o motor de três cilindros, meses depois de chegar ao mercado com o bloco convencional de quatro. E o Up! ganhou um face-lift quase imperceptível, mas que não foi capaz de colocar uma tampa de vidro nem nas versões com motor turbo.


Estilo e Acabamento


O Chery QQ é o de estilo mais vistoso, simpático e moderno dos três. Tem formas arredondadas (mais até que a anterior geração, vendida entre 2011 e 2015) e uma frente de faróis ovais e um baixo relevo na grade que lembra um sorriso maroto (não estou fazendo propaganda do grupo de pagode). Atrás, a tampa do porta-malas é na verdade o vidro, com uma pequena faixa fumê, entre as lanternas verticais na coluna.



A tampa de vidro do Up! seria maior se a Volkswagen não a tivesse rejeitado na adaptação do modelo europeu para o Brasil. Adotou uma tampa convencional, de lataria, vinda do Seat Mii ou do Skoda Citigo, gêmeos do Up!. Só as versões com motor TSI usam uma pintura em preto brilhante, para dar uma enganada. Mas o Up! comparado aqui no blog é na versão básica Take, com motor 1.0 aspirado, que tem a traseira na cor do carro. O estilo do modelo da marca alemã ainda é moderno e também simpático. Mas as linhas são mais retas e tendem a se desatualizar mais rápido.

Ainda falando do Up!, mudaram os canhões dos faróis, a ranhura do capô ficou mais aberta, o para-choque dianteiro ficou mais recortado e o traseiro mais vincado e as lanternas mudaram os elementos internos, trocando os que tinham forma de C por vários que lembram curativos.


Já o Fiat Mobi é o oposto do Chery QQ. Além das formas mais retas, com cantos arredondados, como o Uno, o carro que lhe deu origem, tem uma frente "antipática", que, associada aos faróis escurecidos e a grade em preto brilhante, o deixa com aparência invocada, chegando a lembrar, na cor branca, um dos Star Trooppers, aqueles soldados da série Star Wars. E com a carroceria preta, então, fica a cara do vilão Darth Vader. A traseira também tem tampa de vidro, como o "bonzinho" chinês.

No acabamento, Up! e Mobi se equivalem. Ambos possuem materiais rígidos, mas o Mobi tem um aplique em preto brilhante que o deixa um pouco mais caprichado em relação ao Take Up!. O painel do Up! das versões mais caras perdeu aquela faixa de cor diferenciada no painel, deixando-o preto e texturizado, tirando a irreverência do modelo compacto. O quadro de instrumentos vem do Fusca e os círculos menores estão colados ao velocímetro no centro, mas na versão Take há apenas um instrumento que concentra o velocímetro e marcadores de combustível e óleo.

Em terceiro lugar vem o QQ, que melhorou o acabamento em relação ao modelo antigo, mas, com plásticos crus, ainda está bem atrás dos concorrentes das marcas mais tradicionais.


Espaço interno e Porta-malas

A distância entre-eixos do Up! é de 2,42m. Uma vantagem considerável frente aos concorrentes QQ (2,34m) e Mobi (2,31m). Tirando a margem de erro da medida, que nem sempre reflete o real espaço interno, o compacto da Volks ainda é o mais espaçoso para as pernas. O Chery e o Fiat empataram em segundo lugar.

Mais objetiva é a capacidade do porta-malas, na qual o Up! é superior. Oferece 285 litros de capacidade. Vale lembrar que, após o face-lift, as versões mais baratas não oferecem mais a S.A.V.E, aquela prateleira que dividia a área de bagagem, oferecida apenas na versão High. Em segundo lugar vem o Mobi com 215 litros e o QQ, com 160 litros (um preço que o sino-paulista pagou para ter um espaço interno razoável).


Motor e Câmbio

Abastecido com álcool, o novo motor 1.0 Flex, de três cilindros e comando variável de válvulas, do Chery QQ é o menos potente. Tem apenas 75 cavalos, enquanto o rival tem 77 cv. Mas com gasolina (74 cv), ele é superior ao do Mobi, que tem 72 cv. O "chinês" também é o único com apenas uma opção de motor. O Fiat também tem o 1.0 de quatro cilindros de outras versões e o Up! tem o mesmo motor 1.0 tricilíndrico com turbo (TSI).

Por falar no Volkswagen, o MSI (como é chamado o propulsor sem turbo) é o mais potente com os dois combustíveis: 75 cv com gasolina e 82 cv com álcool. Por causa desta diferença de classificação entre o QQ e o Mobi com gasolina, dei empate técnico no segundo lugar entre os dois carros, fazendo uma soma das potências (149 cv ou 74,5 cv de média).

O câmbio não entra na pontuação, pois neste comparativo ambos foram analisados com a transmissão manual e os três possuem cinco marchas, mas o Chery volta a ser o único sem opção de câmbio automático. O Mobi tem o câmbio GSR (ex-Dualogic) nesta mesma versão Drive, única com o motor de três cilindros, e o Up! o i-Motion.


Desempenho e Consumo


Com o motor mais potente, o Up! também tem o melhor desempenho: aceleração de 0 a 100 km/h em 14,9 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 24,2 segundos. Em segundo lugar vem o Mobi com 15,7 seg. e 29,8 seg. Em terceiro vem o QQ, com 16,3 segundos e 31,1 segundos.


O normal seria que o Chery gastasse menos combustível. Mas ele também ficou para trás na quilometragem por litro de gasolina. Fez 11,7 km/l na cidade e 15,2 km/l na estrada, soma de 26,9 km/l. O segundo colocado foi o Up! com 31,4 km/l (13,5 km/l e 17,9 km/l). O mais econômico é o Mobi com 32,3 km/l (14,3 km/l e 18 km/l). Os números de consumo e desempenho são da revista Quatro Rodas.



Frenagem e Ruído

Usando os números da revista Carro, os três modelos param a partir de 80 km/h na faixa de 25 metros, sendo 30 centímetros para o Up!, 49 para o QQ e 96 para o Mobi. Diante de total empate técnico, decidi considerar os números da Quatro Rodas para o Fiat e o Volks. Mas a vitória continua com o Chery porque a revista da Abril não apresentou o número de frenagem da versão Flex e nem localizei algum teste antigo. Assim, fica valendo os 25,49m da revista Carro. Em segundo lugar vem o Up! com 28,5m e em terceiro o Mobi com 29,6m.

No nível de ruído, a vitória é do Up!, com 59,8 decibéis a 80 km/h, segundo a Quatro Rodas. Já o QQ e o Mobi empatam em segundo lugar com 65,4 e 65,1 decibéis, respectivamente. Mas estes dois foram avaliados pela Carro. Para ser mais justo, tenho um número desta revista para o Up! antes do face-lift (o mesmo da frenagem). E o Volks também é o melhor, com 61,1 decibéis.


Preço, Equipamentos e Assistência


Mesmo sendo fabricado no Brasil, onde os sindicatos mandam e desmandam e as leis trabalhistas encarecem o salário e o produto, fora os impostos, o Chery QQ continua quase com o mesmo preço da versão importada da China, conhecida pela mão-de-obra barata, algumas vezes escrava. A versão básica, chamada Smile, custa R$ 25.990, mas não traz ar condicionado e nem direção hidráulica.

Escolhi considerar a versão completa ACT, que custa R$ 31.990 e traz o ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico (vidro elétrico nas quatro portas), rádio AM/FM com USB (mas sem Bluetooth) e quatro auto falantes, luzes diurnas de LED, ajuste elétrico dos faróis, chave com controle remoto, abertura automática do porta-malas, computador de bordo, banco do motorista com ajuste de altura, sensores de estacionamento traseiros, rodas de liga-leve de 14 polegadas e engate ISOFIX para cadeirinhas infantis. O QQ é o mais barato e o mais completo dos três deste comparativo.


O Fiat Mobi é o segundo com mais equipamentos de série. A versão Drive até que vem bem equipada, com ar condicionado, direção elétrica, vidros e travas elétricos, computador de bordo e volante com regulagem de altura (que o Chery não tem). Mas o preço de R$ 41.260 está bem distante do modelo chinês e acaba sendo mais caro também em relação ao Up!. E para ter banco do motorista com regulagem em altura, retrovisores elétricos e sensores de estacionamento traseiro é preciso adicionar o pacote Tech, por mais R$ 3.860, levando o preço a R$ 45.124. E se quiser som com Bluetooth, ainda tem o kit Connect, que já leva o Mobi a R$ 46.641.

O Volkswagen Up! Take, a versão mais barata, é o que tem preço mais "próximo" do QQ ACT. Claro que é mais caro, custa R$ 37.990, mas não traz ar condicionado, vidros e travas elétricos e direção elétrica, que são opcionais e levam o custo a R$ 43.240, ainda mais barato que o Mobi Drive completo. Para o Up! ter o mesmo nível de equipamentos do Chery é preciso escolher a versão Move, que custa R$ 48.790 e não tem opcionais. Mas a diferença de preços é gritante.

Na assistência, a Volkswagen continua soberana com as suas 619 concessionárias, seguida pela Fiat com 580 e em terceiro, a ainda aspirante Chery, com 105.



Up! 2015



Conclusão 

A expectativa era que o Chery QQ fosse comer poeira dos concorrentes das marcas tradicionais Fiat e Volkswagen. Mas não foi o que aconteceu. Como esperado, se destacou no preço e na lista de equipamentos de série. Mas suas linhas arredondadas agradam mais e ele surpreendeu na frenagem. E foram essas quatro vitórias que o ajudaram a ficar em segundo lugar, superando o pretensioso Fiat Mobi, com quem empatou em pontos e em todos os quesitos em que ficaram em segundo lugar (motor, ruído e espaço interno). Os defeitos do chinês fabricado em Jacareí, entretanto, ficaram evidentes no desempenho, consumo, porta-malas, acabamento e assistência. 

Mesmo cometendo o erro de ser lançado com motor de quatro cilindros para depois ganhar o de três em uma única versão, o Mobi conseguiu ser o Fiat mais vendido no ano até julho. Mas contra os seus dois principais concorrentes empatou em pontos com o QQ e acabou ficando em terceiro no desempate das vitórias, perdendo por 4x2.

 O Fiat só foi o melhor em consumo e acabamento. Por outro lado, ficou em terceiro no preço, na frenagem e no estilo desengonçado, querendo ser um Up! mas acabou ficando um Uno cortado ao meio. 

Para ser lançado no Brasil, o Up! teve que crescer no entre-eixos, ganhar espaço no porta-malas para acomodar o estepe de verdade e ganhar vidros que se abaixam em vez de basculante. Foi um investimento acertado, pois além de manter o estilo original (com exceção da tampa de vidro que virou de lataria), o Up! sobrou neste comparativo. 

Na versão Take, ele consegue ser mais barato que o Mobi, cuja única versão com motor de três cilindros é intermediária, mas perdeu em equipamentos, o pior resultado do Up!. A Move é mais completa, porém, muito cara (custa mais de R$ 48 mil). 

O passeio se deu com vitórias no motor, desempenho, ruído, porta-malas, assistência e espaço interno. O comparativo mostrou que o Up! é superior a um subcompacto, mas posicioná-lo acima do futuro Gol, como a Volkswagen pretende fazer, pode ser uma forçada de barra. 


TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTAS QUATRO RODAS E CARRO



1º Volkswagen Take Up! 1.0 MSI



2º Chery QQ ACT 1.0 



3º Fiat Mobi Drive 1.0 3 cilindros