No ano passado, Honda Civic e Chevrolet Cruze foram completamente renovados e o Nissan Sentra ganhou um face-lift. Não os comparei logo no lançamento porque eu estava esperando a renovação frontal do líder do mercado, o Toyota Corolla, que começou a ser vendido somente no início de abril.

Então, finalmente, decidi reunir estes quatro modelos e o Ford Focus Fastback para mais um comparativo de sedãs médios. As versões consideradas, como sempre, foram as top: Civic Touring, Cruze LTZ completa, Sentra SL, Corolla Altis e Focus Titanium Plus. Civic e Cruze usam motor turbo e os demais 2.0, sendo que o do Ford tem injeção direta.

Desta vez, Renault Fluence (vencedor de todos os comparativos que participou), Citroën C4 Lounge e Volkswagen Jetta ficaram de fora. O tempo deles já passou e eles precisam se renovar completamente para voltarem à briga.



5º Toyota Corolla Altis 2.0 16v Dual VVTi



A atual geração do Toyota Corolla, sedã médio mais vendido do país, lançada em 2014, ganhou nova grade (mais fechada e zangada) e novos faróis, novos difusores de ar no painel, novo layout da máscara central de comandos, além de controles de estabilidade e tração, que faziam muita falta na atual carroceria.

Mas as mudanças não foram suficientes para torná-lo um carro vencedor em comparativos. Muito menos tirá-lo da última posição. Começando pelo seu estilo, que é o mais conservador dos cinco aqui analisados, inclusive em relação ao Nissan Sentra. A distância de frenagem de 66,9 metros a 120 km/h, de acordo com a revista Quatro Rodas, é a maior dos cinco e o ruído de 61,9 decibéis a 80 km/h, segundo a revista Carro, é o mais elevado.

Apesar de ser o único a trazer airbag para o joelho do motorista desde a versão básica, o Corolla Altis tem itens que os concorrentes também possuem, como os demais seis airbags, assistente de rampa, entrada e partida sem chave, banco do motorista com ajuste elétrico, sistema multimídia (sem espelhamento no Toyota), câmera de ré, ar condicionado digital de duas zonas, bancos em couro, acendimento automático dos faróis, piloto automático, entre outros. Mas deve diferenciais como alerta de ponto cego nos retrovisores e estacionamento automático, presentes no Focus e no Cruze. O preço de R$ 114.990 só não é mais caro que o Honda Civic. Vale lembrar que esse preço é somente na cor branca, nas demais oferecidas (prata, cinza, preto, vermelho e marrom) ele custa R$ 116.440. E na cor branca perolizada vai a R$ 116.740. 

O motor 2.0 Dual VVT-i Flex é o mesmo desde a geração retrasada. Rendendo 143 cv com gasolina e 154 cv com álcool, só superou os 140 cv do Sentra. Pelo menos o câmbio automático é CVT (continuamente variável). Também no desempenho, o Toyota só foi melhor que o Nissan, com aceleração de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 7,3 segundos.


Mesmo com material emborrachado no revestimento da parte superior do painel, o Corolla empata com o Cruze como os piores acabamentos, pois as suas portas continuam aparentando fragilidade. Já a Toyota oferece 216 concessionárias para assistir o cliente, ganhando apenas das 160 da Nissan.

O consumo de 10,9 km/litro na cidade e 14,6 km/l na estrada com gasolina (segundo a Quatro Rodas) e o porta-malas de 470 litros ficaram em terceiro lugar. O melhor resultado do Corolla foi o segundo lugar no espaço interno e ainda empatado com o Sentra.

O Corolla pode ser o líder de mercado, mas está longe de ser o melhor sedã médio. Este título somente uma geração inteiramente nova (e mais ousada, como o Civic) pode dar.



4º Nissan Sentra SL 2.0 16v



O Nissan Sentra foi mais um que ganhou um face-lift que não fez milagre. Só ficou em quarto lugar, superando apenas o Corolla. Seu maior defeito é o motor 2.0 16v de 140 cavalos, enquanto os seus rivais aqui no comparativo rendem de 150 cv para cima. O propulsor fraco também prejudicou o seu desempenho, o mais lento dos cinco, com aceleração de 0 a 100 km/h em 12 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 9,3 segundos (segundo a Quatro Rodas), mesmo com o câmbio CVT. A rede de 160 concessionárias da Nissan também é a menor entre os modelos presentes no comparativo.

O consumo de 10,1 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada com gasolina só não é o mais alto porque empata com o Focus, que obteve alguns décimos a menos na soma dos percursos. O estilo contrariou a geração anterior e voltou a ser 'tiozão', mas é mais criativo que o Corolla.

A lista de equipamentos da versão top SL é quase igual ao Toyota e ao Civic. Tem ar condicionado digital dual zone, controles eletrônicos de estabilidade e tração, chave com sensor de presença e botão de partida, sensor de estacionamento traseiro e faróis com acendimento automático, sistema multimídia com navegador GPS e câmera de ré na tela de 6 polegadas, piloto automático, airbags laterais e de cortina, banco do motorista com regulagem elétrica, entre outros. Mas seus diferenciais são os alertas de colisão (que só avisa, não para), tráfego cruzado e ponto cego, além de teto solar elétrico e sistema de som Bose.


Mesmo com o pacote de equipamentos em terceiro lugar, o Sentra é o mais barato do comparativo: custa R$ R$ 104.150 nas cores Vermelho Malbec, Prata Classic, Cinza Grafite e Branco Diamond. E ainda pode custar menos (R$ 102.900), se o comprador optar pelo Preto Premium. 

A partir daqui, o Sentra só obteve bons resultados, como o segundo lugar na frenagem (63,8 metros a 120 km/h, pela Quatro Rodas), ruído (60,6 decibéis a 80 km/h, pela Carro, empatado tecnicamente com Cruze e Focus), porta-malas (503 litros, atrás apenas do Civic), acabamento (painel bem revestido) e espaço interno (empatado com o Corolla). 

Essas boas colocações o colocaram dez pontos à frente do Corolla, mas fora do pódio. É outro que precisa de renovação.



3º Chevrolet Cruze LTZ 1.4 Turbo



Um dos sedãs médios totalmente reestilizados ano passado acabou ficando em terceiro lugar. Empatou em pontos e vitórias com o Focus, mas foi superado por ter vencido apenas um item sozinho (assistência, 600 concessionárias da Chevrolet), enquanto o Ford ganhou dois.

O Cruze também se destacou no consumo e na lista de equipamentos. Mas a soma dos 11,8 km/l na cidade e 15,9 km/l na estrada ficou apenas cinco décimos melhor que o Civic e foi declarado empate técnico.

Também nos equipamentos o Chevrolet dividiu a sua vitória, mas com o Focus. De série, a versão LTZ já traz controle de tração e estabilidade, sistema de fixação de cadeiras para crianças ("Isofix"), abertura do porta malas por controle remoto, ar condicionado digital, assistente de partida em aclive, câmera de ré, piloto automático, direção elétrica progressiva, bancos em couro, volante multifuncional, tecnologia OnStar, seis airbags, luzes diurnas em LED, regulagem de altura dos faróis, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, roda de alumínio aro 17", sensores de chuva e faróis, indicador do nível de vida de óleo, bateria e pressão dos pneus, entrada sem chave, espelhos retrovisores externos elétricos, aquecidos e com rebatimento elétrico, espelho retrovisor interno eletrocrômico, sistema de partida do motor e acionamento do ar condicionado por controle remoto e sistema multimídia MyLink, com tela sensível ao toque de 8", navegador integrado, e integração com smartphones através do Android Auto e Apple CarPlay.


Mas os itens que o ajudaram a vencer o quesito são opcionais na versão top, como alerta de colisão frontal, detector de ponto cego, assistente de permanência em faixa, farol alto adaptativo, indicador de distância para o veículo da frente, carregador sem fio de celular, sistema de estacionamento automático, partida sem chave e banco do motorista com regulagem elétrica. Poderia ter vencido, mas o Focus tem assistente de frenagem autônomo, controle de torque em curvas, faróis de xenônio e teto solar, o que acabou igualando a qualidade do pacote.


Básico, o Cruze custa R$ 102.990, mas com este pacote que se equipara ao Focus o preço dispara para R$ 112.990. No entanto, quem quiser outra cor além do vermelho (Edible) terá que pagar mais R$ 1.500 e o carro passa a custar R$ 114.490, 500 reais mais barato que o Corolla. 

O motor 1.4 turbo flex, de 150 e 153 cavalos ficou em terceiro lugar, mas o trem de força, associando o câmbio automático de seis marchas, lhe deu bons resultados na pista da Quatro Rodas. Além da vitória dividida no consumo, o Cruze ficou em segundo lugar no desempenho com redondos nove segundos na aceleração e seis segundos na retomada, na frenagem a 120 km/h em 64,1 metros, empatado tecnicamente com o Sentra, com quem volta a dividir a mesma classificação no nível de ruído de 60,3 decibéis a 80 km/h, este medido pela Carro. Aqui, houve um empate triplo, pois o Focus também ficou na faixa dos 60 decibéis.

O que lhe custou o "vice-campeonato" no comparativo dos sedãs médios foram as pontuações baixas no espaço interno, no acabamento com muito plástico duro, mas com uma parte em couro, e no porta-malas de 440 litros. No entanto, o Cruze não ficou nenhuma vez em último lugar isolado.

A segunda geração do Cruze não é feia e, muito menos, antiquada. Pelo contrário. Mas perde para o Focus em personalidade, principalmente na traseira. Se assemelha demais a um carro coreano. Daí o terceiro lugar, classificação que se repetiu no geral.



2º Ford Focus Fastback Titanium Plus


O sedã de carroceria mais antiga do comparativo ficou em segundo lugar, mesmo empatando em pontos com o totalmente renovado Cruze. Ambos venceram três quesitos. Mas o Focus, que ganhou um face-lift em 2015 e trocou o sobrenome Sedan para Fastback, venceu sozinho dois deles: frenagem e motor.

O Cruze pode ter detector de ponto cego, assistente de manutenção em faixa e carregador sem fio de celular. Mas o Focus, na versão Titanium Plus, traz sistema de frenagem autônomo, controle de torque em curvas, faróis de xenônio e teto solar. Empataram pelos diferenciais.

Ambos também trazem sistema de estacionamento automático. E rodas de liga-leve de 17 polegadas, controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, seis airbags, sistema multimídia com espelhamento, câmera de ré, entrada e partida sem chave, sensores de chuva e faróis, ar condicionado digital dual zone, bancos em couro, espelhos retrovisores elétricos com rebatimento automático, sensor de estacionamento dianteiro, piloto automático e banco do motorista com ajuste elétrico.

No preço, quem leva vantagem é o Focus, que só é mais caro que o Nissan Sentra. De tabela, custa R$ 110.840, apenas na cor Vermelho Bari. Na cor Branco Ártico custa mais 500 reais. Para ter mais opções de cores, só optando pelas pinturas metálicas, que custam R$ 1.300 e levam o preço para R$ 112.140, mais de oitocentos reais mais barato que o Cruze, só que este também só é vendido pelo valor original na cor vermelha e acaba se tornando também mais caro, encostando no Corolla.

Na frenagem, ninguém parou em menos que 62,3 metros a 120 km/h como ele. Mas a sua outra vitória, nos 175 e 178 cv do motor 2.0 Direct Flex, que não tem turbo, mas sim injeção direta, acabou não lhe dando retorno no desempenho, que é apenas mediano. Talvez culpa do câmbio automatizado Powershift, de dupla embreagem e seis marchas. Segundo a Quatro Rodas, acelera de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos e retomada em 6,5 segundos. Já o consumo é um dos piores. Com 9,7 km/litro na cidade e 14,5 km/l na estrada, empatou tecnicamente com o Nissan Sentra.


O seu interior não é muito generoso em espaço. O porta-malas é o menor, com 421 litros de capacidade, e o espaço no banco atrás é um dos mais apertados ao lado do Cruze. Embora tenha revestimento emborrachado no painel, o acabamento fica atrás do Civic e do Sentra.

Além das três vitórias em equipamentos, desempenho e frenagem e do segundo lugar no preço, o Focus Fastback, com 60,4 decibéis, faz parte do empate triplo em segundo lugar no nível ruído na faixa dos 60 decibéis a 80 km/h, segundo a revista Carro, ao lado do Cruze (60,3 dBA) e do Sentra (60,6 dBA). As 399 concessionárias da Ford só ficam atrás das 600 da Chevrolet.

Apesar do projeto mais antigo (mundialmente é de 2011, mas só chegou aqui no ano seguinte), suas linhas ainda são atuais e mais ousadas que o Cruze, mesmo com o face-lift que o padronizou com toda a linha Ford. A nova geração, a ser apresentada mundialmente (e talvez também no Brasil) no final do ano, não deve fugir deste estilo.




1º Honda Civic Touring 1.5 Turbo


Falar que o Civic mudou da água para o vinho em sua nova geração, lançada no ano passado, já é um clichê. Mas falo mesmo assim. Tanto que no comparativo de 2015 a comportada geração anterior pulou da oitava e última posição para a vitória, agora com o futurista estilo 'cupê de quatro portas'.

E o seu desenho um dos pontos de superioridade do Honda, que também se destacou no nível de ruído (59,8 decibéis a 80 km/h, segundo a Carro), porta-malas (519 litros), acabamento (materiais emborrachados e para-brisa com tratamento acústico), espaço interno, desempenho e consumo.

Nestes dois últimos o mérito foi do novo motor 1.5 Turbo, único movido apenas a gasolina, que rende 173 cavalos. Embora tenha perdido em potência para os 175/178 cv do Focus Fastback, o Civic deixou os concorrentes comendo poeira ao registrar, pela Quatro Rodas, aceleração de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos e retomada entre 80 e 120 km/h em 5,1 segundos. Já o consumo foi o único item em que o Civic empatou. A Quatro Rodas obteve 11,9 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada. Somando esses números, o total fica cinco décimos abaixo do Cruze, logo um empate técnico. O câmbio CVT de 7 marchas não entrou na contagem dos pontos.

A Honda tem 225 concessionárias (baseado no divulgado pela Quatro Rodas), a terceira maior rede das cinco marcas aqui presentes. Tecnicamente, o pior resultado do Civic foi na frenagem de 64,8 metros a 120 km/h.

A pior colocação do Civic está relacionada ao seu novo porte. Esta versão Touring ficou tão grande e cara que se afastou do segmento médio e já deveria concorrer com modelos como o Ford Fusion e o Volkswagen Passat. Mas a escolhi por causa do motor 1.5 Turbo, semelhante ao Cruze, e também pela sua história na categoria. Custa R$ 124.900, dez mil mais caro que o Corolla, o segundo mais barato. E somente na cor Branco Tafetá. Nas demais cores oferecidas, metálicas e perolizadas, sai por R$ 126.100.


Só que a sua lista de equipamentos, porém, é mesmo um ponto fraco. Só ficou à frente do Toyota. Não tem estacionamento automático, alerta de colisão ou frenagem autônoma, como os seus rivais Cruze e Focus. Mas tem detector de pontos cegos no retrovisor, ar condicionado digital dual zone, painel digital de alta resolução, entrada e partida sem chave, acionamento do motor por controle remoto, bancos em couro com ajuste elétrico para o do motorista, tela de multimídia de 7 polegadas sensível ao toque com navegador, câmera de ré e espelhamento, faróis e lanternas full-LED, sensores de luz e chuva, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, direção elétrica progressiva, retrovisores com rebatimento elétrico, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, freio de estacionamento eletrônico, seis airbags, ISOFIX, rodas de 17 polegadas com acabamento diamantado, piloto automático e assistente de economia (ECON). 

O Civic venceu o comparativo 2017 de sedãs médios pelas suas qualidades dinâmicas, técnicas e de conforto, mas o seu custo-benefício deixa a desejar. É um carro grande, com preço de carro grande, mas equipamentos de carro médio.



E se o Civic tivesse concorrido com o EXL 2.0... 

Ganharia do mesmo jeito, com a mesma pontuação e diferença para os segundos colocados. Cruze e Focus continuariam empatados, mas o Chevrolet viraria o jogo no critério de desempate, por ter vencido mais itens, independente do empate. É preciso lembrar que, com a troca da versão, a classificação e a pontuação mudam. 

O Cruze herdaria a vitória do Civic no desempenho e no nível de ruído, este junto com o Focus, que por sua vez perderia a melhor frenagem exatamente para o Honda. O Civic 2.0 cairia para o terceiro lugar em desempenho (0 a 100 em 10,5 segundos e retomada em 7 segundos). No ruído (60,8 decibéis a 80 km/h, segundo a Carro) cairia para o quarto lugar. Em compensação recuperaria esta diferença na frenagem (61,8 metros a 120 km/h, pela Quatro Rodas). Na lista de equipamentos perderia apenas uma posição, mas passaria a ser o segundo mais barato (versão EXL custa R$ 105.900). Mesmo com motor diferente, a potência do Civic  (150 e 155 cv) continuaria em segundo lugar e ele ainda seria um dos mais econômicos (12,6 km/l na cidade e 15,4 km/l na estrada). Já nos demais itens estáticos como espaço, porta-malas, acabamento e assistência não haveria mudanças.

TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTAS QUATRO RODAS E CARRO (NÍVEL DE RUÍDO)