TEXTO: MÁRIO COUTINHO LEÃO | FOTOS: VOLKSWAGEN

"Todo carro ao ser nacionalizado fica pior!". Até um tempo atrás eu achava isso um exagero, mas com o tempo deu para notar a que o tal preconceito era, na verdade, constatação. Não importa a marca, a sensação de piora fica nítida. E o "mito" Golf não segue caminho diferente. Lembra até um canal de youtube que diz "a gente somos BR e não desistimos nunca...". A avaliação tripla do GUSCAR abrange os três motores oferecidos, todos com câmbio automático. As versões mecânicas do 1.4 TSI e 1.6 MSI ficam para uma próxima oportunidade.

Dando uma rápida olhada nas fichas técnicas dá para notar que os números de desempenho do GTI 2.0 e TSI 1.4 pioraram levemente. E que o segundo ainda perdeu a suspensão multilink - trocada por um sistema de braço arrastado e barra de torção - e teve a transmissão robotizada de dupla embreagem e sete marchas DSG substituída por uma caixa automática convencional de seis marchas (Aisin, marca da Toyota) e um conversor de torque. Claro retrocesso, com uma boa dose de otimismo da VW em explicar as trocas.
Nós do GUSCAR resolvermos submeter os três carros citados no trajeto padrão, com asfalto muito ruim, curvas de vários raios e subidas e descidas exigentes. Aproveitamos a chance para medir o consumo sob as mesmas condições.




GOLF GTI 2.0T - Versão que menos sofreu na nacionalização. Desempenho geral e consumo pioraram um mínimo e a própria Volkswagen admite isso nos números oficiais. Acabamento é idêntico ao mexicano que, por sua vez, é nitidamente inferior ao do modelo importado da Alemanha. Impossível dizer que o Gol é ruim. Tudo funciona a contento, com a velocidade de cruzeiro em retas planas pouco acima dos 150 km/h, com total segurança, silêncio e conforto. Ergonomia, equipamentos e comportamento dinâmico é, com facilidade, um dos melhores entre os carros nacionais. Mesmo queimando apenas gasolina, seu custo de quilômetro rodado fica pouca coisa mais caro que o de um carro 1.0 na faixa dos R$35.000 e empata com um Fusca 1600 de 20 anos atrás. Nota 10!

GOLF TSI 1.4T - Aqui as perdas na mecânica são fáceis de notar. Suspensão e transmissão bem mais simples, mas só serão notadas em ritmo muito intenso, literalmente "de pé embaixo". Velocidade de cruzeiro fica nos 140 km/h, com comportamento excelente. A suspensão traseira consegue quase o mesmo compromisso estabilidade/conforto da antiga, com a vantagem de ser bem mais resistente à pavimentação lunar da maioria das cidades brasileiras. A antiga transmissão DSG era mais ágil porém ruidosa. E a manutenção corretiva destes dois sistemas citados ainda é excessivamente cara. O aumento de potência e torque compensaram a lerdeza da caixa convencional, que é sensivelmente mais silenciosa que a antiga. E o 1,4-litro turbinado ainda conseguiu fazer com álcool a mesma média de consumo do GTI, que só roda com gasolina. Em resumo, nota 7.

GOLF MSI 1.6 - Hora da trêta! Comportamento dinâmico idêntico ao mais caro 1.4 TSI. Freios, direção e suspensões trabalham da melhor forma possível. Na cidade a caixa Aisin é suave nas trocas, com relações de marchas que conseguem explorar o (pouco) torque que só aparece "lá em cima". O nível de ruído incomoda apenas nas ultrapassagens e subidas mais longas. Embora os números de fábrica sugiram que a velocidade de cruzeiro fique nos 120 km/h, contente-se com uns 10 km/h abaixo disso. Não chega a ser grande demérito, até porque os buracos e radares não permitem mais que os 110 km/h regulamentados na maioria das rodovias brasileiras. Ainda avisado pelos números de fábrica, foi difícil acreditar no consumo elevado deste 1.6-litro de 120 cavalos frente o motor mais potente. Embora o número aferido seja melhor que muito carro "mil", foi cerca de 18% pior que o TSI. Mesmo com todas as qualidades, a sensação de desempenho foi bem abaixo do que sugerem os 11,6 segundos no 0-100km/h informados pela VW. A faixa de 13~14 segundos nos parecem mais plausíveis. E os R$80mil pedidos nas lojas não são convidativos. Nota 4.


Depois de dois dias de condução apressada e medição de consumo em "ritmo-padrão", dá para afirmar que o GTI e o TSI seguem como excelentes carros para uso diário, principalmente se você anda "chutado" na maior parte do tempo. Já o MSI 1.6 16v é indicado para quem não precisa de muito desempenho e/ou não roda com lotação completa a todo instante. Como carros os Golf são "OK". Como negócio, pense melhor, conheça os concorrentes e use uma calculadora.


 Consumo GUSCAR 

Rodovia MG-427
Volkswagen Golf GTI: 13,2 km/l (G)
Volkswagen Golf TSI: 13,2 km/l (A)
Volkswagen Golf MSI: 10,8 km/l (A)

 Números de Fábrica 

Volkswagen Golf GTI 2.0T 16v AT6 - 2017
Preço Sugerido: R$117.690
0 a 100 km/h: 7,2 segundos
Velocidade Máxima: 237 km/h
Consumo Cidade: 10,5 km/litro (Gasolina)
Consumo Estrada: 12,9 km/litro (Gasolina)

Volkswagen Golf Highline 1.4T 16v AT6 - 2017
Preço Sugerido: R$96.690
0 a 100 km/h: 8,6 segundos
Velocidade Máxima: 204 km/h
Consumo Cidade: 8,0 (A) / 11,5 (G) km/litro
Consumo Estrada: 9,3 (A) / 13,3 (G) km/litro
Proporção de Autonomia Álcool x Gasolina: 69,8%

Volkswagen Golf Comfortline 1.6 16v AT6 - 2017
Preço Sugerido: R$79.990
0 a 100 km/h: 11,6 segundos
Velocidade Máxima: 184 km/h
Consumo Cidade: 7,3 (A) / 10,4 (G) km/litro
Consumo Estrada: 8,1 (A) / 11,6 (G) km/litro
Proporção de Autonomia Álcool x Gasolina: 69,8%