TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO E REVISTA QUATRO RODAS
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS


Há vinte anos, a Fiat começava a importar para o Brasil o seu Coupé, que se chamava exatamente assim. O esportivo, lançado na Europa em 1993, após quase quinze anos sem produzir um modelo do gênero, tinha linhas únicas, criadas pelo polêmico Chris Bangle (famoso na BMW, mas que na época trabalhava no Centro de Stilo Fiat), sendo que o estúdio Pininfarina foi o responsável pela sua produção.



O Fiat Coupé se destacava pela grade baixa e acompanhada dos faróis de neblina, os faróis principais retangulares no capô com lentes em bolha, a linha de cintura lateral ascendente, vincos diagonais próximos às rodas formando um Z na lateral, a maçaneta embutida na coluna, o bocal saliente do tanque de combustível (como nos carros de competição) e a traseira reta com dois pares de lanternas redondas (recuadas) dispostos diagonalmente. Luzes de LED não existiam naquela época.


O interior lembrava os modelos da Maserati, marca de propriedade da Fiat. O painel tinha uma faixa pintada na cor do carro atravessando todo o tablier (este sim desenhado pela Pininfarina) e também nas portas. Os quatro instrumentos e as luzes de operação ficavam exatamente nesta faixa, atrás do volante. O console central era "barrigudinho" e trazia os difusores de ar retangulares, seguidos abaixo pelo relógio (analógico ou digital) e alguns botões, entre eles o do pisca-alerta, os comandos do ar condicionado (ainda manual), o rádio toca-fitas, um porta-objetos com tampa e finalmente a alavanca do câmbio. 


Os bancos de trás, além de apenas dois lugares (o habitáculo tinha disposição 2+2), ofereciam espaço reduzido, tanto em altura, quanto, principalmente, para as pernas. A capacidade do porta-malas era de apenas 304 litros, deixando claro que o Coupé não era um modelo para a família.

Foto: Germando Lüders (Revista Quatro Rodas)

O Fiat Coupé chegou ao Brasil por volta de outubro de 1995, em apenas uma versão com câmbio manual de cinco marchas e motor 2.0 16v, o mesmo que o hatch médio importado Tipo usava desde o início daquele ano. Rendia 137 cavalos (cinco a menos que na Europa), o que não fazia do cupê um esportivo puro. 

Tanto que, em desempenho, ele ficava atrás do Chevrolet Calibra (150 cv) e do Mitsubishi Eclipse (216 cv), ambos mais potentes. Acelerava de 0 a 100 km/h, segundo a revista Quatro Rodas, em 10,65 segundos. A retomada de 40 a 100 era em 23,80 segundos e a velocidade chegava a 204 km/h. O consumo de 8,73 km/l na cidade e 12,46 km/l na estrada era razoável.

O propulsor Turbo - de mesma cilindrada, com 195 cavalos e boostdrive (um sistema que aumentava a pressão do turbo quando se pisava no acelerador até o fim e era um precursor do atual Overboost do Bravo T-Jet, que funciona ao toque de um botão) - que tornava o Coupé um verdadeiro esportivo, não veio. Assim como a tração 4x4.


O Coupé custava US$ 50 mil (com todos os opcionais) quando chegou. Na época tinha este mesmo valor em real, mas hoje custaria cerca de R$ 200 mil. Trazia de série direção hidráulica, trio elétrico, freios ABS, antena eletrônica no vidro traseiro, rádio toca-fitas, bancos esportivos com ajuste lombar e de altura, coluna de direção com ajuste de altura e alcance, vidros climatizados verdes, cintos dianteiros com regulagem de altura, faróis e luz traseira de neblina, limpador/lavador do vidro traseiro, regulagem interna dos faróis, alavanca do câmbio forrados em couro, check control e rodas de liga-leve de 15 polegadas. 

Ar condicionado, alarme, teto solar elétrico, airbags frontais e bancos revestidos em couro eram opcionais. Central multimídia e ar digital eram sonhos futuristas para o brasileiro naquela época, embora o segundo já estivesse disponível nos modelos da Audi.


Como usado, o Coupe está sendo cotado entre 18 e 27 mil reais. Tanta desvalorização se justifica porque ele não vendeu bem em nosso mercado. Por isso, parou de ser importado logo, em 1996, após 1.500 unidades. Se tornou uma raridade. Mas na Europa continuou em produção até 2000, ganhando novos motores como o 1.8 de 130 cv (usado no antigo Brava e no Marea) e o cinco cilindros 2.0, com ou sem turbo, também usado aqui no sedã e na Marea Weekend, que rendia, respectivamente 147 e 220 cavalos.

No site Carros na Web, o público elogia o estilo, o desempenho e até avalia bem o consumo, mas critica o espaço interno e a manutenção. A maioria disse que o Coupé não tem defeitos, mas um deles reclamou que a mecânica esquenta bastante. Outro disse que o italiano deve ser mantido como um troféu. Nesses tempos em que os nossos carros estão voltando a ser carroças e pelo fato de nunca mais ter tido um sucessor no exterior, deve mesmo. O Fiat Coupé se tornou um mito.


FICHA TÉCNICA

Motor: Quatro cilindros, transversal, gasolina, 1.995 cm³, 16 válvulas, injeção eletrônica multipoint
Potência:  137 cavalos
Torque: 18,43 kgfm a 4.500 rpm
Câmbio: manual de cinco marchas
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,65 segundos (revista Quatro Rodas) 
Consumo: 8,73 km/l na cidade e 12,46 km/l na estrada - vazio (Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,25/1,77/1,34/2,54m
Porta-malas: 304 litros
Tanque: 60 litros
Cotação Usado (FIPE): R$ 18.429 -1995
R$ 25.415 - 1996 
R$ 26.872 - modelo 1997