TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO


No final do ano passado, o Honda Civic Si desembarcou no Brasil, importado do Canadá, despertando paixões. Um dos seus antecessores, vendido aqui há uns vinte anos atrás, não chamava tanta atenção. Naquela época, havia um outro cupê encantador: o Chevrolet Calibra.
Entre 1992 e 1994, enquanto reformulava a sua linha, trocando Opala, Monza e Chevette por Omega, Vectra e Corsa, respectivamente, a General Motors resolveu investir no retomado filão dos importados e trouxe, em outubro de 1993, direto da Alemanha, o Calibra, que veio mais para servir de modelo de imagem, embora tivesse como adversários importados como o Mitsubishi Eclipse, o Subaru SVX e o Honda Prelude. O cupê representava o papel que hoje é do Camaro. Só que o modelo, nascido como Opel em 1989, era mais discreto que o esportivo norte-americano. E nunca virou música.
Mesmo assim tinha um desenho marcante. Construído sobre a plataforma do Vectra, que começou a ser fabricado em São Caetano do Sul um mês depois, o Calibra impressionava pelos finos faróis e grade, que lhe davam um coeficiente aerodinâmico de apenas 0,26 cx, um dos menores da época. A queda do teto era arredondada, terminando na traseira um pouco longa e alta, com lanternas verticais que invadiam a tampa do porta-malas. Um detalhe era que as janelas não tinham moldura. Por isso, ao comprar um usado, é preciso muita atenção nas borrachas de vedação e cuidado com os vidros desprotegidos. Mas era um charme.


O painel interno era o mesmo do Vectra. O acabamento refinado. O espaço interno era apertado para os dois passageiros que iam atrás (o centro do banco traseiro tinha uma saliência) e o acesso difícil por causa das duas portas, ainda muito populares no país naquela época. O porta-malas tinha 300 litros de capacidade. Pouco para um carro de 4,49m de comprimento por 1,69m de largura e 2,60m de distância entre-eixos.

Em versão única, chamada 16v, com motor 2.0 de 16 válvulas de 150 cavalos e câmbio manual de cinco marchas, o Calibra vinha equipado com rodas de liga-leve de aro 15", teto solar elétrico, computador de bordo, rádio toca-fitas (depois CD Player), ajuste elétrico de altura dos faróis, ar condicionado, direção hidráulica, bancos e volante revestidos em couro, trio elétrico, regulagem de altura do banco do motorista e freios ABS a disco nas quatro rodas.


A altura era baixa. Apenas 1,29m. Por isso, o Calibra raspava as lombadas com frequência, o que exigia muito do protetor do cárter. Na pista ele acelerava de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos e alcançava velocidade máxima de 220 km/h, segundo a Chevrolet. Mas a revista Quatro Rodas registrou apenas 10 segundos e velocidade de 215,2 km/h, comprovando que o Calibra era um esportivo leve e, como sugeria o nome, equilibrado. 

A mesma publicação obteve ainda um bom consumo de 9,8 km/l na cidade e 13,32 km/l na estrada. Porém, o ruído de 69,8 decibéis e a frenagem, ambos a 120 km/h em 66,5 metros eram elevados.


O Calibra custava 44.300 dólares quando foi lançado (a moeda da época era o inflacionado Cruzeiro Real). Mais barato que os concorrentes já citados, como o Prelude, o Eclipse e o SVX. A manutenção era razoável. As partes em comum com o Vectra até quebravam um galho, mas as exclusivas, principalmente de estilo como faróis, lanternas e vidros eram caros e difíceis de encontrar.

Deve ser por isso que o cupê alemão teve apenas 1.567 unidades importadas até 1996, quando sucumbiu ao elevado imposto de importação de 70%. O Calibra já tinha passado por um pequeno face-lift, no qual a gravatinha da Chevrolet (na época dentro de um círculo preto) passou da ponta do capô para a grade, junto com um V cromado que vinha da Vauxhall britânica, como na primeira geração do Astra importado da Bélgica.  No atual mercado de usados ele está cotado na faixa entre 16 e 19 mil reais. 
Na Europa, o Calibra teve versões com motores 2.0 de oito válvulas e 115 cavalos, turbo e V6 e de tração integral (4x4). Também disputou o campeonato de turismo alemão, o chamado DTM, contra as as antigas Mercedes Classe C AMG e Alfa Romeo 155. Saiu de cena por lá em 1999, quando foi substituído pela versão cupê da segunda geração do Astra.

Opel Astra Coupé
Antes do Camaro, a General Motors voltaria a importar o pequeno cupê Tigra (tema de um futuro Lembra de Mim?), derivado do Corsa, em 1998 e 1999. Mas cupê como o Calibra, elegante, discreto, versátil e durável, o Brasil nunca mais teve outro.