TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA CARRO


O City foi lançado no Brasil em 2009, para a Honda marcar presença no disputado segmento dos sedãs compactos. Acabou ficando muito caro e perdendo mercado dentro de casa, para o Civic, maior que ele.

Em sua segunda geração, que chegou no ano passado, também fabricada em Sumaré, a Honda assumiu que o City não é mais um compacto. Mas, também, ainda não é um sedã médio. E, por isso, o três volumes derivado do monovolume Fit vive um dilema: caro e grande para ser um compacto e pequeno e pouco equipado para ser um médio.

Dilema que começou logo na hora de eu preparar este comparativo. A ideia inicial era colocá-lo para enfrentar o Toyota Corolla em sua versão básica, GLi 1.8, e o Kia Cerato. Mas achei que ele ia passar vexame contra dois sedãs maiores que ele (respectivamente na faixa de 4,60 e 4,50m). O City tem 4,45m.

Então, decidi descer para o seu patamar original e compará-lo com o Ford Fiesta Sedan e o Hyundai HB20S, marcando a volta da marca sul-coreana aos comparativos do Guscar (estava afastada porque seu site tinha desativado o configurador, com a relação correta de equipamentos e preço).

Foram consideradas as versões completas e com câmbio automático (ou automatizado, no caso do Ford): o City EXL 1.5, o Fiesta Titanium Powershift 1.6 16v e o HB20S 1.6 16v na versão Premium. O Hyundai é o único que também é vendido com motor 1.0.

Eu ainda não desisti de colocar o City contra o Corolla. Deixei o comparativo para o mês que vem, quando a versão básica do Toyota, a GLi, será relançada com menos equipamentos e mais cara.



Estilo

Mesmo sendo um desenho de 2007 (o Sedan foi desenhado junto com o hatch, mas só apresentado em 2008), o Fiesta (que eu não vou mais chamar de New) tem o estilo mais atraente. E isso ficou reforçado pela enorme grade hexagonal adotada em 2012 (que chegou aqui no ano seguinte). O teto curvado e o desenho contínuo das janelas até a base da coluna despertam mais atenção. Só as lanternas traseiras que ficaram pequenas (aumentaram um pouco no face-lift).

O City e o HB20S parecem conservadores perto do Fiesta. E o plástico cinza no final da janela de ambos transmite uma pequena poluição visual. Entretanto, ambos têm as suas qualidades estéticas. O Honda na grade frontal cromada e na traseira de estilo BMW e o Hyundai nos seus faróis espichados.


Acabamento

Ainda importado do México, o Fiesta Sedan tem acabamento mais caprichado que o hatch, que passou a ser fabricado em São Bernardo do Campo (SP). Seu painel tem revestimento emborrachado e as portas, embora com plástico duro, possuem uma parte macia. No hatch, o painel é todo duro e desalinhado.

O painel do City é todo em plástico duro com uma grossa faixa prateada e display do ar condicionado digital operado por toque. As portas têm revestimento de tecido e os encaixes são perfeitos. Por isso empatou com o Ford, que tem algumas folgas nos encaixes.

Já o HB20S ficou para trás porque aparenta muita simplicidade no painel de plástico duro e as portas só têm revestimento em tecido na frente.

Espaço interno

O maior comprimento (4,46m) em relação aos compactos, especialmente os seus dois desafiantes neste comparativo (4,41m no Fiesta e 4,23m no HB20S), enfim deu uma boa vantagem ao City no espaço interno. Mesmo uma pessoa de 1,90m vai muito bem acomodada no banco de trás. A distância entre-eixos do Honda também é a maior, com 2,60m. Depois, aparecem o HB20S (2,50m) e o Fiesta (2,49m), E a distância entre-eixos não foi a única referência.


Porta-malas

A imprensa divulga que o porta-malas do City tem 536 litros. Mas quem visitar o site da Honda verá uma observação no rodapé da página, dizendo que são 485 litros acima da tampa do assoalho (espaço mais utilizado) somados aos 51 litros de um fundo falso abaixo da cobertura. Mesmo assim, o City ainda tem o maior bagageiro. O Fiesta tem 465 litros e o HB20S, 450. Todos têm dobradiça do tipo pescoço de ganso, que rouba espaço da área útil.





Motor

Aqui, todos têm motor flex e com dezesseis válvulas. Dois, no entanto, são 1.6. Só o i-VTEC do City tem 1.5 litros de cilindrada. O Fiesta, com o Sigma de 125 cavalos com gasolina e 130 cv com álcool, foi o que melhor aproveitou a vantagem. Depois vem o Gamma do HB20S, com 122 e 128 cv, respectivamente. O Honda foi prejudicado pela menor capacidade cúbica e ficou com apenas 115 e 116 cavalos.

Câmbio

Em compensação, o City tem o câmbio CVT, de relações continuamente variáveis e sete marchas. Embora presente na primeira geração do Fit de 2003, seu carro-base, é uma transmissão moderna, com borboletas atrás do volante para mudanças manuais. O Fiesta tem o câmbio automatizado de dupla embreagem Powershift, de seis velocidades, com mudanças manuais em botão na lateral da alavanca. A caixa do HB20S é a automática tradicional com apenas quatro marchas e nem mudanças manuais sequenciais tem.

Desempenho

O Fiesta aproveitou a maior potência e sobrou nas provas de desempenho realizadas pela revista Carro, com álcool. Acelera de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos, com retomada entre 80 e 120 km/h em 7,5 segundos.

Mas o segundo colocado não foi o HB20S, como esperado, e sim o City. Ambos aceleram em 11,2 segundos, mas o Honda, mesmo mais pesado e com menor cilindrada, recuperou as velocidades mais altas em oito segundos contra 10.1 segundos do Hyundai. Mérito do câmbio CVT ou limitação do automático de quatro marchas?

Consumo

O consumo dos três foi equilibrado e o resultado ficou inversamente proporcional ao tamanho da cilindrada. O menor volume do motor do City ajudou na estrada. O Honda andou, também segundo a Carro, 12,4 km com um litro de álcool (combustível utilizado no teste da revista). Na cidade fez apenas 7,5 km/l. A vitória no quesito veio na soma dos percursos, que ficou em 19,9 km/l.

O Fiesta com 18,9 km/l combinados, sendo 8 km/l na cidade e 10,9 km/l na estrada, e o HB20S com 18,6 km/l (7,2 km/l e 11,4 km/l) empataram no segundo lugar.

Fiesta - Powershift 6 marchas e dupla embreagem

City - CVT sete velocidades

HB20S - 4 marchas

Segurança (Frenagem)

O Fiesta Titanium tem sete airbags (dois frontais, dois laterais, dois de cortina e uma bolsa que protege o joelho do motorista). O City, só na versão top EXL, tem dois frontais e dois laterais e o HB20S, mesmo na top Premium, só tem os dois frontais obrigatórios por lei.

Mas o critério de avaliação de segurança do Guscar é sempre considerando a frenagem. Neste comparativo os dados são da revista Carro e a classificação quase combinou com a oferta de bolsas de ar. A 80 km/h o Fiesta parou mais rápido, a 25,2 metros. Só que o City parou apenas quarenta centímetros (25,6m) depois, o que caracteriza empate técnico. O HB20S só se imobilizou em 26,9 metros.

A Carro disponibilizou os dados de uma prova diferencial de 100 km/h com o veículo carregado. O vencedor foi o City com 40,7 metros e em segundo lugar o Fiesta, com 42,9m. Com 51,7 metros, o Hyundai continuou em terceiro. Porém, para manter o padrão de testes, optei pelos 80 km/h com o carro vazio e o Ford foi mesmo o vencedor.


Conforto (Nível de ruído)

Na prova de conforto, considerando o nível de ruído a 80 km/h, os três sedãs ficaram na faixa dos 61 decibéis. Empate técnico, com o Hyundai enfim vencendo por décimos (61,3 decibéis). Depois vem o Honda, com 61,6 e o Ford com 61,8 dB(A).






Preço

Ser o carro mais barato do comparativo foi a única vitória do Hyundai HB20S. Até o fechamento deste post, a versão Premium 1.6 Automático com navegador e bancos em couro custa R$ 62.110. Com pintura metálica o preço aumenta para R$ 63.205 ou R$ 63.405 no caso da perolizada Azul Ocean. O HB20S é o único que pode ter motor 1.0, com três cilindros. As outras versões 1.6 são a Comfort Plus (R$ 51.935), Comfort Style (R$ 54.745), Premium básica (R$ 57.700), Premium com bancos em couro (R$ 59.275) e Premium com navegador (R$ 60.535). 

A seguir vem o Fiesta Sedan na versão Titanium 1.6 16v, agora exclusivamente com câmbio Powershift, que sai por R$ 66.490.  Quem quiser economizar um pouco pode optar pela versão SE com o mesmo motor e ao preço de R$ 55.790, mas com câmbio manual e apenas os airbags frontais. O SE Powershift custa R$ 60.290. O preço das pinturas varia entre 1.029 e 1.270 reais.  

O City EXL, que só tem o câmbio CVT, é o mais caro, custando R$ 69.000. As outras versões do Honda são a DX manual (R$ 53.900), LX (R$ 62.900) e EX (R$ 66.700), estas duas últimas só com o CVT.


Equipamentos 

Pena que o HB20S é o mais barato por oferecer menos equipamentos. Embora seja o único dos três equipado com navegador GPS e TV (chamado blueNav), que ainda é opcional, como os bancos em couro, o sedã da Hyundai só oferece de série os airbags frontais, ar condicionado manual, direção hidráulica, rodas de alumínio de 15 polegadas e os triviais trio elétrico, computador de bordo, faróis de neblina, banco do motorista e volante com regulagem de altura (o segundo também com ajuste de alcance) e comandos do som com MP3 e Bluetooth, que está integrado ao sistema blueNAV e também há entradas USB e auxiliar. O HB20S também tem sensores de estacionamento traseiro e de faróis, mas deve piloto automático.  

O City EXL tem a segunda melhor lista de equipamentos porque tem airbags laterais e o moderno ar condicionado digital (de apenas uma zona) de comando sensível ao toque. A câmera de ré com vários ângulos de visão é oferecida no lugar do sensor de estacionamento, mas o motorista sente falta do alerta sonoro. Ele também peca ao não oferecer Bluetooth. No mais tem direção elétrica, trio elétrico, piloto automático, computador de bordo, volante e banco do motorista ajustáveis e bancos em couro (o L da sua sigla significa leather, couro em inglês). As rodas de liga-leve são de 16 polegadas. 

A melhor lista de equipamentos é a do Fiesta, pelo show de tecnologia. Os airbags laterais, cortina e de joelho para o motorista, além dos sensores de chuva, faróis e estacionamento traseiro são exclusivos da versão Titanium, mas os controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, ar condicionado digital e o Sync Media System já estão disponíveis na básica SE, que tem motor 1.6 e câmbio Powershift opcional (o básico é manual). Os deslizes são o revestimento de couro apenas em parte dos bancos e o sistema multimídia Sync, que tem tela monocromática, típico do início da década passada. Em compensação tem o assistente de emergência que aciona automaticamente o SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) quando o airbag dispara e o combustível é cortado. É o mesmo sistema do Ka, que também foi estendido ao hatch e à picape Ranger. Direção elétrica, computador de bordo, piloto automático, trio elétrico, faróis de neblina, banco do motorista e volante ajustável em altura são outros equipamentos presentes no Titanium. As rodas de liga-leve são de 15 polegadas no SE e 16 no Titanium. 

Assistência 

A Hyundai oferece cinco anos de garantia, enquanto a Ford e a Honda três. Mas como o que conta é o número de concessionárias, o Fiesta tem mais pontos de manutenção, com 374 concessionárias. A marca sul-coreana tem 203 e a japonesa, mesmo com mais tempo de atuação no país que a rival asiática, ainda só contabiliza 191.

Fiesta - Sync System

City - Ar condicionado touch screen

HB20S - BlueNAV



Conclusão 

Com sete vitórias em treze itens, cinco delas isoladas, duas empatadas e um empate geral, o Ford Fiesta Sedan Titanium Sigma 1.6, ou New Fiesta para quem preferir, somou mais pontos e foi o vencedor de um comparativo do Guscar pela primeira vez. Em 2012 havia ficado em terceiro em um comparativo de cinco, atrás do City da antiga geração.

O modelo da Ford se destacou sozinho no motor, desempenho, estilo, assistência e equipamentos. Em frenagem e acabamento empatou com o City e todos se igualaram em nível de ruído. Só ficou atrás em espaço interno.

Com três pontos a menos ficou o Honda City, estreando a sua nova carroceria em segundo lugar, posição que a geração antiga obteve em 2012, mas ficando atrás apenas do Fiat Grand Siena e à frente do Fiesta com a grade passada.

Além da frenagem e do acabamento divididos com o Ford, o City foi o melhor no câmbio CVT, consumo, porta-malas e espaço interno. A rede de concessionárias pequena para uma marca com mais de vinte anos de atuação, o fraco motor 1.5 e o alto preço se revelaram os maiores problemas do "sedãzinho" (?) da Honda. 


Voltando a um comparativo do blog, a Hyundai ficou em terceiro com o HB20S vencendo apenas no preço e com o melhor nível de ruído, mesmo que tenha dividido os pontos com os outros dois concorrentes. Mas resultados inferiores no câmbio, desempenho, frenagem, porta-malas, acabamento e equipamentos de série o empurraram para o terceiro lugar, mesma posição de um comparativo de 2013, atrás do Chevrolet Prisma e do Fiat Grand Siena, o vencedor. 

O incompreendido Honda City até que se encaixou bem no comparativo, ficando apenas três pontos atrás do Fiesta, mas quem parece ainda não estar pronto para o segmento de sedãs compactos premium é o HB20S. 


1º Ford Fiesta Titanium 1.6 16v Powershift

FICHA TÉCNICA

Motor: Quatro cilindros, transversal, flex, 4 cilindros, VVTi, 1.597 cm³, 16 v
Potência: 125 (gasolina) e 130 cv (álcool)
Torque: 15.4 (gasolina) e 16,0 (álcool) kgfm a 4.250 (G) e 5.000 (A) rpm
Câmbio: automatizado Powershift de seis marchas e dupla embreagem
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,8 segundos (álcool)
Consumo com álcool: 8,0 km/l e 10,9 km/l na estrada 
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,41/1,72/1,47 /2,49 metros
Porta-malas: 465 litros
Tanque: 52 litros
Preço: R$ 66.490


2º Honda City EXL 1.5 CVT


FICHA TÉCNICA 

Motor: Quatro cilindros em linha, transversal, flex,1.497 cm³, 16 válvulas
Potência: 115 cv (gasolina) e 116 cv (álcool)
Torque: 15,2 (gasolina) e 15,3 kgfm (álcool) a 4.800 rpm
Câmbio: automático CVT de sete marchas
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,2 segundos (álcool)
Consumo: 7,5 km/l na cidade e 12,4 km/l na estrada (álcool)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,46/1,70/1,49/2,60m
Porta-malas: 536 litros (485 + 51 litros abaixo do assoalho)
Tanque: 46 litros
Preço: R$ 69.000

3º Hyundai HB20S Premium 1.6 16v Automático


FICHA TÉCNICA 

Motor: Quatro cilindros, transversal, flex, 1.591 cm³, 16 válvulas
Potência: 122 cv (gasolina) e 128 cv (álcool)
Torque: 16 kgfm a 4.500 rpm (gasolina) e 16,5 kgfm a 5.000 rpm (álcool)
Câmbio: automático de quatro marchas
Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,2 segundos (álcool)
Consumo: 7,2 km/l na cidade) e 11,4 km/litro na estrada (álcool)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,23/1,68/1,47/2,50 m
Porta-malas: 450 litros
Tanque: 50 litros
Preços: R$ 57.700 (Premium automático básico) / R$ 52.795 (Premium automático com blueNAV e bancos em couro)