TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS


O Fusca voltou. Não para ser um carro robusto e barato, como foi no passado, e concorrer com Celta, Uno e Ka. Mas para suceder o New Beetle (reencarnação moderna do Fusca importada do México entre 1999 e 2010) e chamar atenção por onde passa. Agora ele é um carro de imagem, como são o Mini Cooper, o Hyundai Veloster, Peugeot RCZ e Citroën DS4.

Entre estes somente o Mini e o DS4 são os mais apropriados para enfrentar o Fusca. Mas escolhi o Citroën por ser o lançamento mais recente e ter informações melhores sobre a sua lista de equipamentos e preço.

O DS4 é vendido no Brasil desde março em versão única, com câmbio automático e motor 1.6 turbo. O Fusca também só tem um motor turbinado, mas 2.0. O modelo básico do Volks, entretanto, é vendido com transmissão manual e a automática, na verdade, é automatizada DSG, com seis marchas, igual ao rival, que é automático de verdade. O pecado do Fusca é oferecer muitos opcionais.

Apesar de bem diferentes no desenho da carroceria, o duelo entre o Fusca e o Citroën DS4 promete ser bem equilibrado. Será?



Estilo  e Acabamento



A linha DS da Citroën, além de homenagear o luxuoso e inovador sedã DS (1955-1975), foi criada para oferecer um estilo e requinte diferenciado a consumidores exigentes. Só que o DS4 é o mais discreto da linha que também é composta pelo pequeno DS3 e a perua DS5.

Não que ele seja feio, pelo contrário. Tem formato de cupê, com teto e janelas arqueadas. A maçaneta da porta traseira fica na coluna da janela e a caixa da roda traseira é levemente saliente. Mas o DS4 é o mais parecido com o restante da linha na grade. As lanternas traseiras têm o já manjado formato horizontal e com um desnível na tampa do porta-malas como nos Audi.


Visualmente o Fusca é mais original. Mesmo tendo um estilo retrô, continuará mais moderno e chamando mais atenção que o rival francês. Ponto para ele.


O interior do Volkswagen também é o mais autêntico. O painel reto, próximo ao para-brisa, com porta-luvas integrado e refrigerado (há outro na parte da baixo) é inspirado no velho besouro, o que não acontecia no antigo New Beetle, que era futurista. No alto há até um trio de instrumentos (termômetro do óleo, cronômetro e indicador de pressão do turbo). O DS4, por sua vez. reproduz o ambiente do novo C4, que será apresentado aos brasileiros através do sedã Lounge. Para quem propõe exclusividade é um contra-senso.



Entretanto, o acabamento do francês é superior, com revestimento emborrachado no painel, enquanto que no Fusca é em plástico duro, embora tenha uma faixa estampada. Outro detalhe positivo no Volkswagen é que a parte da porta que sugere parte da lataria, como no velho Fusca, é na verdade plástico rígido brilhante na cor da carroceria. Mesmo assim, vitória do Citroën, que ainda pode mudar a cor da iluminação do quadro de instrumentos (entre branco e azul), tem detalhes de outras cores nos bancos e um protetor macio para as pernas do carona ao lado do console.

1x1 


Espaço interno e Porta-malas

O espaço interno no banco de trás do Fusca é praticamente inviável. Só comporta com conforto dois adultos de até 1,65m. Os mais altos sequer conseguem acomodar os joelhos. O espaço do DS4 é maior, mas também não merece muito elogio. O ponto crítico do francês é a falta de abertura do vidro traseiro (que apenas bascula), criando uma sensação de claustrofobia. Botar a culpa no recorte da janela não me convence. O porta-malas do Citroën também é o maior: 359 contra 310 litros do Fusca, que, mesmo assim, impressiona no tamanho.

DS4 3 x 1 


Motor e Câmbio



O Fusca foi totalmente inspirado no modelo clássico. O DS4 só usa o nome. O Volkswagen tem duas portas e o Citroën quatro. São carros bem diferentes com um ponto em comum: o motor a gasolina turbinado. Mas é a única semelhança entre eles (tá bom, o Fusca é apenas um centímetro mais longo: 4,28m contra 4,27m). O motor do Fusca é 2.0, tem injeção direta e rende 200 cavalos de potência. O do DS4 é 1.6, com turbo de alta pressão (THP) e tem 165 cavalos.


O francês dá o troco no câmbio de seis marchas. Embora seja sequencial e tenha a mesma quantidade de velocidade do alemão fabricado no México, é um automático de verdade, com conversor de torque, mas sem alavanca no volante. O do Fusca é automatizado, mas não deixa de ser moderno com mudanças manuais no volante e dupla embreagem, conjunto chamado de DSG, mesmo que já esteja sendo usado com outro nome (Powershift) pelo Ford New Fiesta nacional.

DS4 4x2 


Desempenho e Consumo



Os duzentos cavalos do motor 2.0 TSI falaram mais alto e deixaram o Fusca na frente do DS4 na aceleração de 0 a 100 km/h (7,3 contra 9,3 segundos) e retomada de 80 e 120 km/h (4,5 contra 6,3 segundos), segundo a revista Quatro Rodas. O Citroën só tem mais velocidade máxima do que o Volks: 212 contra 210 km/h, de acordo com o fabricante.


Já no consumo, também da Quatro Rodas, o DS4 levou uma vantagem tão pequena que eu declarei empate técnico. Na cidade ele percorre 9,6 quilômetros com um litro de gasolina e 13,6 km/l na estrada. O Fusca tem médias respectivas de 9,7 e 13,1 km/litro.

DS4 4x3 


Segurança e Conforto

Nestes dois itens, o Citroën DS4 ampliou a sua vantagem no duelo. A 120 km/h ele para totalmente em 61,3 metros contra 63,1m do Fusca. No ruído, a mesma velocidade, a Quatro Rodas registrou 63 decibéis para o DS4 e 65,4 dBA para o Volks.

DS4 6x3 


Preço, Equipamentos de Série e Assistência 



O Fusca deveria ter apenas uma versão, mas os dois tipos de transmissão o desdobram, a princípio, em duas. Com câmbio manual, o Volkswagen custa R$ 79.990. Vem de série com airbags frontais e laterais, freios ABS com distribuidor eletrônico, assistente de frenagem e de partida em subida, bloqueio eletrônico do diferencial, controles eletrônicos de tração e estabilidade, aquecimento dos bancos dianteiros, que também têm ajuste manual de altura, direção com assistência elétrica, porta-luvas superior refrigerado, piloto automático, retrovisores externos com detector de ponto cego, sistema multimídia com tela sensível ao toque, CD, rádio, MP3 e Bluetooth, oito alto-falantes, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, além dos triviais trio elétrico, ajuste de altura e alcance da coluna direção, computador de bordo e ar condicionado, que é manual. 


Com o câmbio DSG, para ficar igual ao Citroën, o preço sobe para R$ 84.510. Parece mais em conta do que o rival, que custa R$ 99.970 em versão realmente única. Acontece que o DS4 tem tudo isso (exceto o bloqueio de diferencial) e mais airbags de cortina, assistente de partida também em declives, faróis direcionais com acendimento automático, fixação ISOFIX de cadeirinhas infantis nos bancos traseiros e bancos dianteiros com regulagem lombar elétrica e massagem, itens inexistentes no rival. Além disso, o ar condicionado digital, GPS, sensor de chuva, auxílio de estacionamento, bancos em couro, faróis de xenon, som de grife (Arkamys no DS4 e Fender no Fusca), volante multifuncional e rodas de liga-leve de 18 polegadas são de série no Citroën e opcionais que fazem o Fusca ultrapassar a marca dos 100 mil reais, sem pintura metálica ou perolizada.  

Um orçamento que eu obtive na concessionária Recreio, do Rio de Janeiro, foi de R$ 113.200 para a versão completa, que já vem na cor preta perolizada. 

Nestes 100 mil reais do Fusca também está incluído o teto solar elétrico. Este o DS4 não tem. Mas o para-brisa do Citroën é panorâmico, como no compacto C3, só que com duas cortinas manuais. O francês também não tem borboleta do câmbio no volante e nem abertura das portas/partida do motor sem chave, que é opcional no besouro. 

Ambas as marcas oferecem três anos de garantia para os seus sofisticados modelos de imagem, mas a Volkswagen tem mais concessionárias (619 contra 165). 

Em resumo: o Fusca é mais barato, mas o DS4 tem mais equipamentos, mesmo com o rival completo. Assim, consegue o melhor custo-benefício. 

Conclusão 

O Fusca chama mais atenção, tem mais motor, melhor desempenho, rede de concessionárias maior e ainda vende mais. Mas foi o DS4 quem levou a melhor no custo-benefício, por ter mais equipamentos a um preço mais em conta que o rival completo (o Fusca levou o ponto do preço básico), além de ter um câmbio automático de verdade, um acabamento melhor, ser mais espaçoso, seguro, silencioso e acomodar mais bagagens dos seus ocupantes. O duelo foi equilibrado só até a "página dois". A partir do terceiro item, ficou consolidada a vitória da razão e do requinte da linha DS da Citroën sobre a emoção de ter um Fusca turbinado. 

Placar Final: Citroën DS4 7 x 5 Volkswagen Fusca TSI DSG


1º CITROËN DS4 1.6 THP
Minha Escolha - Mais espaçoso e com melhor custo-benefício

Motor: Quatro cilindros, transversal, 16 válvulas, gasolina, turbo de alta pressão, 1.598 cm³, 
Potência: 165 cv
Câmbio: Automático sequencial de seis marchas  
Aceleração de 0 a 100 km/h: 9,3 segundos (Quatro Rodas)
Velocidade máxima: 212 km/h
Consumo: 9.6 km/l na cidade e 13,6 km/l na estrada (Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,27/1,81/1,53/2,61 m
Porta-malas: 359 litros
Tanque: 60 litros
Preço: R$ 99.970

2º VOLKSWAGEN FUSCA 2.0 TSI 

Motor: Quatro cilindros, transversal, 16 válvulas, turbo, injeção direta de gasolina, 1.982 cm³
Potência: 200 cavalos
Aceleração de 0 a 100 km/h: 7,3 segundos 
Velocidade máxima: 210 km/h
Consumo: 9,7 km/l na cidade e 13,1 km/l (Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,28/1,81/1,49/2,54 m
Porta-malas: 310 litros
Tanque: 55 litros
Preço: R$ 79.990 (manual) / R$ 84.510 (DSG seis marchas básico) / R$ 113.200 (DSG completo)