Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação


Já disponível nas concessionárias, em duas versões (LT e LTZ), o Chevrolet Cruze representa um novo desafio para a General Motors: recuperar, não só a liderança entre os sedãs médios no mercado brasileiro como, também, a confiança do público para os seus modelos do gênero.

Desde que começou a fabricar veículos de passeio no Brasil, em 1968, os sedãs médios e grandes da GM sempre foram referência. Começou com o Opala, que foi substituído pelo luxuoso Omega. Ganhou o reforço do Monza, que conseguiu a façanha, jamais repetida por um carro grande, de liderar o mercado geral por três anos, entre 1984 e 1986. Por fim, este foi substituído pelo Vectra, que teve três gerações no nosso país.

A confiança foi perdida quando a terceira geração do Vectra se transformou num Astra reestilizado para economizar custos. Um grande preconceito contra o Brasil em prol dos grandes lucros. Resultado: os japoneses nacionalizados Honda Civic e Toyota Corolla venderam mais. O Vectra também era criticado pelo consumo excessivo de combustível.

Agora o Vectra dá lugar ao Cruze, um projeto sul-coreano, com participação de outros centros de estilo da General Motors no mundo, como Alemanha, Estados Unidos e Austrália. Nasceu como Daewoo Lacetti na Coreia do Sul, deixando de lado a inspiração alemã da Opel. Mas foi escolhido para ser um projeto mundial, como o Monza foi no passado, e revitalizar a General Motors, que quase faliu em 2008, com a crise econômica dos Estados Unidos.

Pena que o nome não soa tão bem no nosso país. As pessoas podem associá-lo às expressões cruz-credo ou cruzes. Saudades dos tempos em que os publicitários brasileiros tinham liberdade de escolher um nome agradável para nós.


O Cruze não merece esses apelidos pejorativos. A beleza e a elegância dos seus 4,60m de comprimento (2 centímetros mais curto que o Vectra), 1,79m de largura (6cm mais largo)  e 1,48m de altura (2 cm a mais) se destacam nas ruas. O teto arqueado faz uma fusão fluente (sem trocadilho com o Renault, por favor) com o para-brisas e a traseira, o que lhe deu um aspecto de cupê. Ele abandona aquela emenda artificial do terceiro volume do antigo "Vectrastra". A linha de cintura é alta e as janelas, também em arco, terminam num vidro vigia falso, apenas uma pintura preta, como no compacto Agile, só que mais discreto. Nas portas, acima das maçanetas, há um vinco que começa na ponta da lanterna traseira até a dobradiça da porta dianteira. As rodas de alumínio são de 17 polegadas nas duas versões. Mas o desenho varia. São cinco raios na LT e dez na LTZ.


A tampa do capô avança um pouco sobre os faróis de máscaras escuras e refletores simples, delineando as formas deles. A barra na cor do carro com o emblema dourado grande, padrão estético da Chevrolet, fica mais próxima do capô, o que dá ainda mais agressividade à grade em forma de colmeia. A traseira, com a régua da placa (cromado na LTZ) e o aplique das lanternas, ficou conservadora e lembra o rival Toyota Corolla, mas agrada.

Por dentro, houve melhora de acabamento em relação ao Vectra. Os plásticos rígidos continuam, mas agora eles ganharam a companhia de apliques em tecido ou em couro sintético no painel das portas. Aliás, o tablier adota o estilo duplo cockpit, como no Agile, Camaro, Malibu...


O console central, que vai da tela do sistema multimídia até o apoio de braço (pequeno), divide o painel, e a simetria entre os bancos do motorista e do passageiro é que forma o efeito. O quadro de instrumentos é formado por três capelas com molduras cromadas e a cobertura de plástico. A do meio tem forma de portal e abriga os marcadores de óleo e combustível, além de um pequeno display. As laterais são o conta-giros e o velocímetro.


O espaço interno é bom, mas menor que no Vectra. O Cruze tem distância entre-eixos de 2,68m. O Vectra tinha 2,70m. Os joelhos vão quase encostados no banco da frente. A cabeça dos mais altos raspa no teto. Quem tem cerca de 1,75m de altura fica a um palmo. O porta-malas tem capacidade para 450 litros, menor que o modelo que o antecedia, que tinha 526 litros. O fundo é rígido e as laterais têm carpete. As dobradiças "pescoço de ganso" atrapalham a acomodação da bagagem.

O segundo destaque do Cruze é o motor Ecotec 6, inteiramente novo e importado da Hungria. De quatro cilindros, flex, com 1.8 litro de capacidade cúbica, dezesseis válvulas e duplo comando variável das mesmas, o propulsor aposenta o antigo 2.0 Flexpower, basicamente usado desde os tempos do Monza. Derivado do 2.4 do Captiva, rende 140 cavalos com gasolina e 144 com álcool. O 6 vem das seis marchas presentes tanto no câmbio manual, quanto no automático sequencial.

O desempenho, porém, não correspondeu às expectativas, mesmo com álcool no tanque. Na versão com câmbio automático, a aceleração de 0 a 100 km/h, mesmo divulgada pela fábrica, ficou nos 11,4 segundos. A velocidade só chega aos 197 km/h. Na versão manual, o desempenho melhora para 10,8 segundos e 204 km/h. O consumo é de 6,6 km/litro na cidade e 9,3 km/litro na estrada, também com álcool, segundo a revista Quatro Rodas. É.. com o combustível os antigos proprietários do Vectra vão continuar gastando.

A frenagem também decepciona. Parou a 80 km/h em 32,7 metros. A 120 km/h, imobilizou-se em 64,6 metros. Ainda bem que o Cruze é silencioso: 58,5 e 63,2 decibéis a 80 e 120 km/h, respectivamente. Os números também são da Quatro Rodas.


A versão básica LT já vem com ar condicionado digital e sistema automático de recirculação e qualidade do ar (AQS - "Air Quality System"), freios com ABS com distribuidor de pressão entre as rodas e controle eletrônico de estabilidade, airbags frontais e laterais, controle de tração, conexão Bluetooth e espelhos eletrocrômicos. Além de itens básicos para um modelo médio nacional, como direção assistida (eletricamente), trio elétrico, computador de bordo e volante multifuncional de três braços. Sensor de chuva e acabamento em couro são opcionais. 

O LTZ, que só vem com câmbio automático, adiciona acabamento em dois tons de couro, espelhos externos rebatíveis, airbag tipo cortina, detalhes com acabamento cromado, sensores de obstáculos traseiros e de luminosidade, chave presencial – que permite destravar as portas e acionar o motor com a chave no bolso ou na bolsa, por exemplo – e uma central multimídia completa, com GPS, CD player e tela de 7 polegadas (no LT a tela é menor). Só que cadê a regulagem elétrica do banco do motorista, pelo menos, e a saída do ar condicionado para a traseira, como havia no Vectra? A GM esqueceu.


O Cruze LT custa R$ 67.900 com câmbio manual e R$ 69.900 com o automático. O LTZ sai por R$ 78.900 só com a transmissão automática e em pacote único. Relativamente comparado às versões básicas e completas dos concorrentes, o LTZ é o mais vantajoso. Veja a relação completa dos preços dos rivais no final do texto.

A pintura na cor sólida branco Mahler é a única que não possui acréscimo no valor. As demais (Bege Desert, Cinza Rusk, Prata Polaris, Preto Carbon Flash e Verde Lotus), todas metálicas, acrescentam R$ 990 ao preço final. A garantia é de 3 anos, sem limite de quilometragem. Para o início do ano que vem é esperado o Cruze hatch, que vai substituir o Vectra GT.

O Chevrolet Cruze tem qualidades que podem lhe devolver a liderança no mercado. Mas também defeitos que podem atrapalhar os seus planos.


Pontos Fortes

+ Estilo
+ Acabamento
+ Nível de Ruído
+ Tecnologia do motor

Pontos Fracos

- Desempenho
- Consumo
- Frenagem
- Porta-malas

Concorrentes

  • Citroën C4 Pallas 2.0 16v - R$ 59.490 (GLX manual), R$ 64.990 (GLX automático) e R$ 72.400 (Exclusive)
  • Fiat Linea 1.8 16v - R$ 56.700 (Essence manual), R$ 67.570 (Absolute Dualogic) e R$ 79.474 (1.4 Turbo-Jet completo, manual)
  • Ford Focus Sedan 2.0 16v - R$ 65.100 (GLX manual), R$ 69.290 (GLX automático) e R$ 79.210 (Titanium)
  • Honda Civic 2.0 16v- R$ 66.660 (LXS manual), R$ 71.430 (LXS automático) e R$ 86.750 (EXS)
  • Hyundai Elantra 1.8 16v - R$ 71.700 (manual), R$ 81.600 (automático básico) e R$ 84.200 (automático completo)
  • Kia Cerato 1.6 16v - R$ 59.900 (manual),  R$ 61.900 (automático básico) e R$ 64.990 (automático completo)
  • Peugeot 408 2.0 16v - R$ 59.500 (Allure manual), R$ 64.500 (Allure automático) e R$ 79.900 (Griffe)
  • Renault Fluence 2.0 16v - R$ 60.290 (Dynamique manual), R$ 65.690 (Dynamique automático CVT) e R$ 76.390 (Privilége)
  • Toyota Corolla - R$ 67.070 (GLi 1.8 manual), R$ 70.570 (GLi 1.8 automático) e R$ 86.870 (Altis 2.0)
  • Volkswagen Jetta - R$ 65.755 (Comfortline 2.0 8v manual), R$ 69.990 (Comfortline 2.0 8v automático) e R$ 89.520 (Highline 2.0 TFSI) 



FICHA TÉCNICA - CHEVROLET CRUZE ECOTEC 6 1.8 16v

Motor: Quatro cilindros, transversal, flex, 1.796 cm³, 16 válvulas
Potência: 140 cv (gasolina) e 144 cv (álcool)
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,8 seg. (câmbio manual com álcool) / 11,4 seg. (automático álcool) 

Velocidade máxima: 204 km/h (manual álcool) / 197 km/h (automático álcool)
Consumo Médio: 7,95 km/l (automático álcool - Revista Quatro Rodas)
Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,60 /1,79/1,48 /2,68 m
Porta-malas: 450 litros
Tanque: 60 litros
Preços: R$ 67.900 (LT manual), R$ 69.900 (LT automático) e R$ 78.900 (LTZ)