Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação

Em agosto do ano passado, a Citroën inverteu a ordem natural e lançou o aventureiro Aircross antes da versão mais simples da sua minivan compacta.

Então, finalmente, a C3 Picasso, versão familiar e despida de apetrechos fora de estrada, chegou ao Brasil. A marca francesa, provavelmente, conseguiu negociar com os representantes dos herdeiros do pintor cubista espanhol para usar seu nome pela quarta vez em nosso país (os outros são o Xsara e as duas versões do C4), pois ela quase chamou a versão "civil" do utilitário de AirDream. Mas prevaleceu o bom senso e o nome mundial foi liberado em nosso país.

Por fora, o C3 Picasso brasileiro consegue ser um pouco mais moderno que o original francês. O capô com abertura frontal de molduras cromadas e moldadas no símbolo da marca do Aircross foi mantido. Lá é fechado, embora o para-choque seja mais arrojado. Faróis, laterais e lanternas traseiras, tanto as superiores na coluna, quanto inferiores no para-choque, são semelhantes. Já a tampa traseira daqui abriga a placa no lado direito, como no modelo esportivo, que tem estepe. No Picasso foi para o interior do carro. A traseira deles é mais limpa e centralizada, com a licença no para-choque.

O orgulho nacional acaba quando comparamos o interior. Enquanto os europeus dispõem de um moderno quadro de instrumentos centralizado e digital, com saídas de ar horizontais, o nosso manteve o painel simples e analógico do Aircross, com os mesmos difusores triplos circulares no centro e o buraco entre eles e o console. O acabamento em plástico é o mesmo do aventureiro. O desnecessário conjunto de bússolas e manômetros foi descartado no Picasso, mas o navegador eletrônico por GPS continua na lista de opcionais.

Encerradas as comparações com o C3 Picasso francês, vamos continuar comparando com o nosso Aircross. O modelo light tem colunas dianteiras escuras, combinando com a película dos vidros. No aventureiro são cromadas. O Picasso também é mais curto, por conta da saída do estepe e dos reforços frontais (4,09 m contra 4,28m), e mais baixo (1,63m contra 1,69m). Mas manteve a mesma largura (1,72m) e distância entre-eixos (2,54m).

Já o porta-malas (403 litros, extensíveis para 1.500), tanque (55 litros) e o motor 1.6 16 válvulas Flex (110 cv com gasolina e 113 cv com álcool) são exatamente os mesmos. Ambos os carros são fabricados em Porto Real, aqui no estado do Rio de Janeiro.

O C3 Picasso leva vantagem em três pontos: passa a ter opção de câmbio automático sequencial de quatro marchas, é mais barato que o Aircross e tem a versão básica GL, que custa R$ 47.990. O "off-road" perdeu esta versão, que oferece, de série, ar condicionado, direção hidráulica, computador de bordo, vidros elétricos na frente e atrás, bancos traseiros rebatíveis 1/3 e 2/3, porta-luvas refrigerado e com iluminação, chave-canivete, aviso de cinto de segurança não encaixado e tomada de 12 volts dianteira.

A intermediária GLX é vendida por R$ 50.400, com câmbio manual, e R$ 53.900, com o automático, e traz rodas de liga leve, maçanetas das portas prata ou na cor da carroceria, faróis de neblina dianteiros, CD player com entrada para iPod, mesas tipo avião e, como opcional, duplo airbag. Com a opção automática aparecem os freios com sistema ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da frenagem), além do acendimento automático do pisca-alerta em caso de frenagem abrupta.

A top Exclusive, por R$ 57.400 e R$ 60.400 (câmbio automático), inclui ar-condicionado digital, bancos de couro, CD player com viva-voz por Bluetooth, entrada USB e para iPod, airbag duplo, controlador e limitador de velocidade, volante de couro com detalhes cromados, sensor de estacionamento traseiro, acendimento automático de faróis, para-brisa com sensor de chuva, apoios de braço centrais dianteiros, entre outros itens. Opcionais são os airbags de tórax laterais dianteiros e o sistema de navegação MyWay com tela colorida de 7 polegadas.

O C3 Picasso GL ficou cerca de 8.500 reais mais barato que o Aircross mais básico. Comparando as respectivas versões GLX, que passa a ser de entrada no modelo fora-de-estrada, para posicionar-se acima do irmão mais novo, a diferença é de R$ 6.450.

Se os principais rivais do aventureiro são o Ford Ecosport e o futuro Renault Duster, o C3 Picasso vai brigar com mais gente, quer dizer, mais carros: o Fiat Idea, o Chevrolet Meriva (por enquanto), a Nissan Livina e o Honda Fit.

Dando a minha opinião superficial, apesar dos defeitos no acabamento, da defasagem em relação ao europeu e da falta de alguns equipamentos de segurança, como o cinto de três pontos para o passageiro do meio traseiro, o C3 Picasso agradou mais do que o Aircross. Fará mais sucesso no mercado, pois vai satisfazer melhor o público familiar.

Depois do Picasso, o próximo modelo da plataforma poderá ser, finalmente, a segunda geração do hatch compacto premium, que lhe deu origem.


FICHA TÉCNICA - CITROËN C3 PICASSO


Motor: Quatro cilindros, transversal, 16 válvulas, álcool e gasolina, 1.587 cm³

Potência: 110 cv (gasolina) e 113 cv (álcool)

Comprimento/largura/altura/entre-eixos: 4,09/1,72/1,63/2,54 m

Porta-malas: 403 litros

Tanque: 55 litros

Preço: R$ 47.990 (GL), R$ 50.400 (GLX manual), R$ 53.900 (GLX automático), R$ 57.400 (Exclusive manual) e R$ 60.400 (Exclusive automática)