Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação

A Citroën tem na sua história uma galeria de carros inesquecíveis. Nela estão presentes o Traction Avant, o 2CV, o DS, o SM, o CX... e o AMI 6, que está completando 50 anos em 2011.

Mais conhecido na Europa, o AMI 6 se destacou pelo estilo incomum da carroceria, para não dizer estranho. Lançado em 1961, era construído sobre o chassi do 2CV e posicionava-se entre o clássico popular de 1948 e o sedã de luxo DS, de 1955. Tinha 3,96m de comprimento, 2,40m de distância entre-eixos e pesava apenas 620 kg. Disputava mercado com os ingleses Ford Anglia, Vauxhall Viva e Morris 1100; o alemão Opel Kadett, o italiano Fiat 1100 D e os conterrâneos Peugeot 204, Renault 10 e Simca 1000.

A frente lembrava uma coruja. O capô se afundava com uma quina ondulada acima dos faróis retangulares de moldura oval. O teto caía para dentro, totalmente oposto aos dos outros sedãs. Isso deixava o perfil lateral com um formato de Z. Os para-lamas traseiros cobriam um pouco as respectivas rodas. O terceiro volume era reto e mais estreito, com pequenas lanternas quadradas concentradas mais ao centro, junto com a placa. Já as extremidades tinham dois recortes inclinados. O desenho foi assinado por Flaminio Bertoni, também autor do Traction Avant, do 2CV e do DS.

O nome AMI significava "milieu de gamme", de médio alcance, em português. E também queria dizer amigo. Já o número 6 se referia ao primeiro dígito da cilindrada do motor, que era de 602 cm³. Mesmo sendo um carro médio, tinha um interior simples.

O painel abrigava o retrovisor interno, velocímetro, marcador do nível de combustível, hodômetro total, um cinzeiro, a alavanca do câmbio de quatro marchas sincronizadas, botões e hastes no volante de apenas um braço, típico dos primeiros Citroën. Quatro ou cinco passageiros viajavam com conforto e as bagagens dispunham de ótimo espaço.

O motor era refrigerado a ar, de dois cilindros opostos, com um único carburador Solex montado em posição invertida e potência de apenas 22 cavalos. A tração era dianteira, também já característica da marca desde 1934. A suspensão tinha braços oscilantes, rodas independentes e molas helicoidais em posição horizontal.

Apesar de feio e com motor fraco, o AMI 6 agradou. Tinha desempenho honesto para aqueles tempos românticos: alcançava os 110 km/h. O consumo de 16 km/l era o que mais agradava e o tanque podia ser abastecido com até 25 litros. Entre outras qualidades estavam a estabilidade e o conforto de rodagem.

Se o 2CV visava o trabalhador rural e o DS o executivo, o AMI 6 era o veículo ideal para o público urbano, especialmente as mulheres, ou melhor, as senhoras, a quem a campanha de lançamento do incomum sedã foi dirigida.

O motor aumentou de potência no decorrer dos anos: 26 cv, depois 28 cv e, finalmente, 35 cavalos em 1968, quando ganhou carburador de corpo duplo. Em 1964, foi lançada a perua Break, com uma carroceria mais harmoniosa. Havia também uma versão comercial e o Club, com quatro faróis redondos.

O que poderia se tornar um ofensa por dedicar um carro tão feio a um público tão delicado naquele início dos anos 60, acabou se tornando um sucesso. Claro que Break, que respondia por 55% das vendas, colaborou bastante para o sucesso. O AMI 6 foi o veículo mais vendido da França em 1966 e emplacou 1.039. 384 exemplares até o fim de sua carreira, em 1969.

Desde então foi substituído pelo AMI 8, com uma frente suavizada, as mesmas portas do 6 e a traseira convencional, lembrando muito o concorrente Renault 16. A perua, lançada em 1970, ganhou uma versão de três portas e outra furgão. Em 1972, surgiu o AMI Super, com motor de quatro cilindros, 1.0, 53 cavalos, que alcançava os 145 km/h. A linha AMI foi extinta em 1978, com a saída de linha da perua. O sedã já havia se despedido dois anos antes.

O AMI 6 inaugurou a fábrica de Rennes-La-Janais, que se tornaria uma das maiores da Citroën. Além dele e da versão 8, a unidade também montou o GS/GSA, Visa, BX, XM, Xantia, Xsara, C5 e o C6. Para celebrar os seus 50 anos, o local será ponto de partida de uma volta da França organizada pelo Ami Club da França, no dia 8 de julho. Proprietários de AMI 6, AMI 8, AMI Super e M35 (um cupê da linha, fabricado entre 1969 e 1971) farão uma jornada de 2 600 km em 14 etapas.

O AMI 6 pode não ter renascido inteiramente na atual onda retrô, mas inspirou a traseira do já
extinto C4 coupé VTR, comercializado no Brasil entre 2007 e 2009.