Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação

Cinco anos depois do lançamento, a Fiat percebeu que o seu monovolume compacto Idea estava com o visual cansado e decidiu dar um tapa nele. Aliás, dar tapa, guaribada, plástica, recauchutada, entre outras expressões de mudanças leves ou insignificantes, é especialidade das nossas montadoras.

Ok, ok. A nova frente da Idea ficou bonita e arrojada. Os faróis horizontais, originais da versão italiana, que pareciam vir dos anos 90, foram substituídos por um conjunto que parece subir pelas paredes, quer dizer, pelo para-lamas. Além disso, os refletores duplos são destacados. Na versão Sporting, a máscara interna é escura. A grade, herança da linha 2003 do Palio, agora é inspirada no Punto, deixando a frente mais bicuda. Na Adventure, a moldura é indiscretamente cromada com a assinatura da versão lameira. Na lateral, apenas novas maçanetas e retrovisores maiores com piscas integrados. A Adventure ainda tem os seus para-lamas de plástico.


A traseira, porém, mudou pouco para quem prometia inspiração na italiana Lancia Musa. A placa passou para o para-choque (recurso manjado para dizer que é tudo novo), as lanternas agora têm leds de verdade (primeira vez num carro nacional, mas as luzes de ré e de seta ainda são de lâmpada), ficaram mais altas, ganharam uma "chicane" nos traços e contornos mais arredondados. Mas a alteração parece mais um remendo do que um novo desenho. Por falar nisso, a quina do vidro traseiro ganhou um aplique que simula um envolvimento da moldura do vidro. Para completar, um discreto aerofólio na junção com o teto.


No interior aparece a segunda decepção depois da traseira: visualmente quase nada mudou. As exceções são os grafismos, o volante, o botão do porta-malas no console central (antes ficava no assoalho) e os bancos mais anatômicos. As maiores mudanças foram mais técnicas como maior possibilidade de regulagens de altura e ar condicionado mais potente.


Além da dianteira, a segunda maior novidade da Idea 2011 está no motor: os novos E.TorQ 1.6 e 1.8, ambos de dezesseis válvulas. Eles substituem o antigo 1.8 Powertrain, que era feito em parceria com a Chevrolet. Já estreados no Punto inalterado, são inteiramente novos para as quatro tradicionais marcas instaladas no Brasil, mas são derivados do motor que equipava o Mini e o PT Cruiser, pois eram fabricados pela Tritec, empresa paranaense que fornecia esses motores para a BMW e a Chrysler e que foi comprada pela Fiat.

O 1.6 16v rende 115 cavalos com gasolina e 117 cv com álcool. Os respectivos números de torque com cada combustível são de 16,2 e 16,8 kgfm, sempre a 4.500 rpm. O 1.8 tem potências de 130 e 132 cavalos e torques de 18,4 e 18,9 kgfm, também com 4.500 rotações.


A nova Idea já aparece no site da Fiat em quatro versões. A mais barata é a Attractive, que ainda usa o motor 1.4 Fire Flex e custa R$ 43.590. A intermediária é a Essence, disponível com o motor E.TorQ 1.6, que sai por R$ 45.610. Acrescentando o câmbio automatizado Dualogic o preço sobe para R$ 47.720.

A estreante na linha é a Sporting, iniciada no Punto, adotada na picape Strada, em breve no Uno e que chega agora à Idea. Com rodas escuras de detalhes cromados e faróis escurecidos, tem visual apimentado, mas usa o motor 1.8 16v e ainda custa caro: R$ 54.280. Com câmbio Dualogic o preço é de R$ 56.290. Com a mesma cilindrada e aparência mais carnavalesca e robusta, a Idea Adventure sai por respectivos R$ 56.900 e R$ 59.010, com o Dualogic.


Direção hidráulica, vidros dianteiros e travas elétricos, três apoios de cabeça traseiro com assento bipartido, regulagem de altura para volante e banco do motorista, computador de bordo e repetidores laterais integrados aos retrovisores são equipamentos de série em todas as versões.

Como opcionais da Attractive, ar-condicionado, airbag duplo, freios antitravamento (ABS), dois modelos de rádio, retrovisores e vidros traseiros elétricos, rodas de liga leve de 15 polegadas, sensor de obstáculo e faróis de neblina. A Essence ainda oferece à parte airbags laterais, teto-solar Skydome, sensores de chuva e luminosidade, bancos em couro e retrovisor interno eletrocrômico.

O Idea Sporting traz os itens do Essence, mas adiciona de série ar-condicionado, computador de bordo com mais funções e rodas de liga leve de 16 polegadas, incluindo o estepe. Há ainda retrovisores elétricos, rádio CD com MP3, apoio de braço central e faróis de neblina. Como opção, assentos em couro, sensores de chuva, obstáculos e luminosidades, kit de parafusos anti-furto, vidros elétricos traseiros, teto-solar Skydome, quatro airbags e freios ABS.


Já a versão Adventure se diferencia por trazer mais itens de série, além de ter o visual fora-de-estrada leve. Há airbag duplo, faróis de profundidade e freios ABS de série. O modelo traz também rack de teto exclusivo, grade cromada, rodas de 15 polegadas com pneus de uso misto, protetor de cárter e bússola e inclinômetro no console. O bloqueio de diferencial Locker torna-se opcional, assim como o volante em couro.


Quero esclarecer que eu não estou implicando com a Fiat ao fazer essas críticas tão pesadas. Se ela ou qualquer outra montadora tivesse lançado um carro totalmente novo de verdade e dentro do ciclo de vida de sua versão estrangeira ou, pelo menos, sofrido mudanças parciais mais ousadas eu não pouparia elogios.

O que não admito é que ela tenha enrolado a imprensa durante anos para lançar um carro com a placa no para-choque e desenho da lanterna remendado para dizer que a traseira é nova, colocar uns grafismos novos aqui, um revestimento interno diferente ali, além de desperdiçar recursos que poderiam ser adotados numa nova geração, como esse novo motor E.torQ.

A nova dianteira é bem-vinda, mas deveria ter chegado mais cedo. Em 2008, pelo menos. Tirando isso, o resto das mudanças só é percebido se o consumidor fizer um jogo dos sete erros. O acabamento continua fraco, mas o preço permanece alto e ainda não oferece ar condicionado de série.

Sonho com o dia em que o brasileiro será mais exigente, rejeitando essas economias porcas feitas pelas nossas montadoras e fazendo questão de comprar um carro com desenho moderno, atualizado, em sintonia com o exterior e tudo isso pagando pouco por muitos equipamentos, principalmente de segurança. Ah, e que não tenha medo de comprar um carro azul, vermelho ou verde metálico só porque vai desvalorizar.

A culpa dessa cultura retrógrada do brasileiro não é apenas da falta de dinheiro. Existem pessoas pobres com bom gosto e bom senso. A culpa é do marketing, pelo poder de persuação com más intenções, e da imprensa automotiva, que se vende por uma mordomia nas viagens e uma boca livre no coquetel de lançamento, e por isso não boicota essas enganações que descem goela abaixo no nosso mercado. Porém, se boicotar sofre represálias. É a lei do mais forte.

Consciente dos perigos que corro por essas opiniões esta é a minha parte para tentar mudar a cultura do mercado brasileiro. A cultura da "Maria vai com as outras", "o que o mercado quer", "o que a maioria aceita", "o que o povo gosta", etc.